Ele tem trinta e poucos anos e ela vinte e muitos. Não se conheceram no acaso da paróquia, mas no ocaso da vida. Por causa de Deus e das Suas coisas, tiveram que trocar palavras. Muitas. Depois trocaram olhares, gestos, cumplicidades. Até se sentirem presos a uma corrente invisível. Uma corrente de três ou quatro metros, com cada um deles nas pontas. A uma distância uma união. Encontrei o padre José no mundo da Internet e foi ele que começou a conversa. Não consigo descrever todas as emoções que vêm crescendo em mim há muito tempo, amigo. Ela é extraordinária. Quando estamos juntos, sinto que me evita. Mas eu não consigo deixar de pensar nela. Gosto de dialogar com ela e de lhe sentir o cheiro. Na igreja procuro-a no meio das outras pessoas. Ainda por cima é minha paroquiana. Não tenho medo nem vergonha do que as pessoas possam dizer, do que possa pensar a sociedade em geral, do que possam sofrer os meus pais e restantes familiares. Mas não sei que fazer, amigo. O que será melhor? Viver como sacerdote com o coração triste, ou viver como um homem que descobriu o que é o amor mas tem de abdicar de toda uma vida que se construiu?
Eu não soube responder. É tão complicado responder a um colega sobre estas assuntos que são nossos, de todos os padres, e que não nos podemos distanciar deles. E depois andamos nós a pregar que o principal mandamento de Deus é o Amor. Mas queremos castrar-nos uns aos outros na forma mais íntima de amar. E precisamos de padres que saibam amar. E precisamos de padres autênticos. E precisamos de padres porque cada vez somos menos. Por isso não lhe respondi como devia. Fiz o mais fácil nestas ocasiões. Disse-lhe que ia rezar por ele. Apetecia-me dizer que ele devia procurar a felicidade fosse como fosse. Que devia ter consciência que as paixões passam e só fica o amor. E que o amor a Deus não é apenas uma paixão. E que tudo passa se assim permitirmos que aconteça. Mas como era tanta coisa e tanta coisa paradoxal, acabei por dizer apenas. Vou rezar por ti, amigo.
Do blogue Confessionário dum Padre. Um caso para o dia das vocações sacerdotais