Agenda Paroquial:

sábado, 31 de maio de 2014

NESTE MÊS DE MAIO

A mais antiga oração de Nossa Senhora

Para pedir que a Santa Mãe de Deus nos livre de todos os perigos




DR

Em 1927, no Egito, foi encontrado um fragmento de papiro que remonta ao século III. Este fragmento continha a mais antiga oração a Nossa Senhora que se conhece. Eis a oração:


“À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus.

Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades,

mas livrai-nos sempre de todos os perigos,

ó Virgem gloriosa e bendita!”.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Para reflectir

O enterro da Paróquia


Ouvi esta "história" ontem (26.03.2014), num encontro de agentes pastorais das paróquias de Arroios, Constantim e Mateus , contada, em breves traços, pelo Frei Lima, franciscano. Deixo aqui a minha versão (revista e muito aumentada):

Um padre foi nomeado, pelo Bispo da Diocese, para uma nova paróquia. Quando lá chegou, logo verificou que os habitantes daquela localidade pouco ou nada queriam saber da igreja e muito menos da Igreja, de tal modo que o edifício estava num estado muito degradado, com vidros partidos nas janelas, faltavam telhas no telhado, paredes a necessitar de uma boa pintura, etc.

Quando à Igreja local, também não estava muito bem: não havia sacristão para abrir as portas ou tocar o sino, nem uma única zeladora que varresse o chão, limpasse o pó, colocasse flores nos altares ou lavasse as toalhas e os paramentos litúrgicos.

Ninguém estava disponível para orientar as sessões de catequese das inúmeras crianças e adolescentes que moravam na localidade, nem para fazer as leituras ou cantar durante as celebrações, acolitar o padre durante a missa, ministros extraordinários para distribuir a Sagrada Comunhão pelos doentes que estavam retidos em casa.

Nem os próprios membros da comissão fabriqueira, mesmo tendo aceitado fazer parte da mesma, apareciam às respectivas reuniões, deixando o padre, enquanto presidente da mesma, a falar sozinho.

O padre tinha de fazer tudo o que era necessário para manter a paróquia a funcionar, mas por mais que fizesse e tentasse encontrar colaboradores, todos se escusavam, apresentando as mais variadas desculpas. A situação era verdadeiramente insustentável, pelo que se tornava necessário encontrar, e rapidamente, uma solução.

Uma noite, antes de se deitar, o padre olhou para o crucifixo colocado na sua mesinha de cabeceira, como fazia todas as noites, e, quando se preparava para ajoelhar e rezar, pareceu-lhe que Jesus sorriu e lhe piscou o olho.

Pensou tratar-se de uma ilusão, mas…

Sentou-se na cama e pegou no crucifixo com ambas as mãos, e ficou a olhar para Cristo crucificado, tentando vislumbrar um novo sorriso ou um novo “piscar de olhos” vindos daquela imagem de madeira, tão antiga quanto a paróquia.

Durante largos minutos, nada!

Continuou a olhar e, enquanto olhava, lá começou a martelar-lhe o pensamento a lembrança das dificuldades que estava a passar para tentar encontrar, pelo menos, um ou dois colaboradores que o ajudassem nas tarefas pastorais, e começou a tomar consciência de que ainda não tinha pedido ajuda Àquele que tudo pode e que nunca nos abandona, particularmente nos momentos mais difíceis da nossa vida.

Então, começou a falar com Ele… e escancarou as portas do seu coração, cheio de tristeza pelo estado lastimável em que se encontrava a paróquia, e de angústia por não estar a ser capaz de cumprir com a missão que o bispo lhe tinha confiado.

Quando terminou, Jesus piscou-lhe o olho, sorriu-lhe de novo e sussurrou-lhe umas quantas palavras que qualquer outra pessoa, eventualmente presente naquele quarto, era incapaz de ouvir, pois apenas encontraram eco no coração do padre.

No final, o padre apenas disse:

Obrigado, meu Senhor e meu Deus!

Depois de ter colocado o crucifixo na mesinha de cabeira, deitou-se e dormiu o sono dos justos.

No dia seguinte era Domingo, e o padre, ansioso, dirigiu-se apressadamente para a igreja, a fim de rezar a missa da manhã.

Não ia triste e amargurado, como das outras vezes, quando sabia que ia encontrar, sentadas nos inúmeros bancos da igreja, meia dúzia de idosas, a rezar o terço, e que continuavam a fazê-lo mesmo durante a celebração da Santa Missa.

Desta vez era diferente. Ai se era!

Antes do final da homilia, tossiu algumas vezes, como que para aclarar a voz (mas o que pretendia era chamar a atenção das presentes), e disse do modo mais solene que conseguiu:

Minhas irmãs, quero comunicar-vos que, logo à tarde, em vez da missa das 6 horas, vou celebrar uma “missa de corpo presente”, a que se seguirá o “enterro” desta paróquia.

E continuou com a celebração da missa, como se o que acabara de dizer fosse a coisa mais natural do mundo.

Algumas das presentes não perceberam logo à primeira, e perguntaram a quem estava mais próximo o que é que o padre tinha dito. Mas como nenhuma das presentes percebera bem o “anúncio” que tinha sido feito, umas delas, mais afoita, no final da missa, foi ter com o padre à sacristia e perguntou-lhe o que é que ele quis dizer com aquelas palavras.

O padre só respondeu:

Venham e verão!

Saindo rapidamente da sacristia, a Ti Maria foi contar às idosas presentes o que o padre lhe tinha acabado de confirmar: em lugar da habitual missa das seis, o padre ia celebrar uma “missa de corpo presente” e, logo de seguida, “o enterro” da paróquia.

Como folhas secas levadas pelo vento, as senhoras foram apressadamente contar o que tinham acabado de ouvir às suas famílias, aproveitando para informar quem encontravam pelo caminho: a Mariazinha da Farmácia Remédios, o Zé Alberto do Café Império, a Milú do Cabeleireiro Mizé, o António do Talho Pimpão, a Anita da Mercearia Central, e muitos mais comerciantes, os quais, apesar de ser Domingo, estavam de “portas abertas” para atender os fregueses.

Rapidamente a notícia do “enterro da paróquia” chegou aos ouvidos de todos os habitantes da paróquia, de tal modo que, ainda as seis horas da tarde vinham longe, já a igreja estava apinhada de gente baptizada e não baptizada, de crentes e de não crentes, de agnósticos e de ateus, num número tal que transbordava para o adro.

Chegada a hora marcada pelo padre, chegou à porta da igreja o cangalheiro da vila, no seu veículo, transportando uma urna fechada.

Parou e abriu a porta traseira da viatura. Olhando para os curiosos que se aproximaram, pediu-lhes:

Não se importam de dar aqui uma ajudinha. Preciso de quatro homens fortes.

Sem que houvesse necessidade de repetir, pois a curiosidade era imensa, e não havia tempo a perder para que se fizesse o “enterro da paróquia”, quatro pares de mãos agarraram na urna, puseram-na aos ombros e transportaram-na até junto do altar, onde a colocaram.

O padre celebrou a missa de “corpo presente” e, no final, dirigiu-se a todos os presentes dizendo:

Meus irmãos e minhas irmãs. Antes de mais quero agradecer a presença de todos neste momento em que vamos proceder ao “enterro da paróquia”. Mas, antes de levarmos o caixão até ao cemitério, quero convidar-vos a todos, sem excepção, para, individualmente, vos despedirdes da “paróquia”. Façam uma fila ao centro e aproximem-se da urna.

O povo presente logo se apressou a fazer uma fila no centro da nave da igreja e todos começaram a caminhar em direcção à urna.

O padre abriu a urna… quando o primeiro lá chegou, deu um grito de surpresa e um salto enorme, afastando-se rapidamente do caixão. E o mesmo aconteceu com todos os outros.

Qual teria sido a razão de tal comportamento?

Iluminado por Deus, o padre tinha colocado dentro da urna um enorme espelho, de tal modo que, quando alguém olhava lá para dentro o que via era a sua imagem reflectida no espelho.

Efectivamente, a Paróquia não é uma entidade abstracta, mas é o conjunto das pessoas que, vivendo numa mesma área geográfica, professam, testemunham e celebram a sua fé em Jesus Cristo.

A Igreja não é o edifício onde se pode rezar e celebrar os sacramentos, mas são todos os baptizados que foram chamados por Jesus Cristo à santidade, e que, por isso, constituem o Seu Corpo.

A Igreja é o Corpo Místico de Cristo, do qual Ele é a Cabeça.

Dito de uma forma simples: o enterro de uma “paróquia” não é mais nem menos do que o “enterro” de cada um que vive nessa mesma “paróquia”, pois se uma “paróquia” está morta, é porque a vida espiritual de cada um dos seus habitantes baptizados já morreu há muito.

Para terminar. Qual tem sido o nosso papel na vida da nossa paróquia? Ou será que temos estado a dar um grande contributo para o “enterro” da nossa paróquia?
JP

quinta-feira, 29 de maio de 2014

SEM SOMBRA DE DÚVIDA, O MAIOR

O maior político da actualidade

A viagem do Papa Francisco à Terra Santa foi anunciada como uma viagem estritamente religiosa, porém, tornou-se numa viagem mais relevante politicamente do que religiosamente, se é que se pode dissociar uma realidade da outra. Cada vez mais me convenço que não. A viagem do Papa Francisco demonstrou isso mesmo e revelou que este Papa é o maior político da actualidade. Um verdadeiro líder mundial. Nem Obamas, nem Merkels, nem, Putins, nenhum líder político de hoje consegue suplantar a presença e a capacidade política que o Papa Francisco apresenta com os seus inesperados gestos.
Tudo é simbólico no Papa Francisco. Recordo a sua oração diante do muro da vergonha com a testa encostada à parede, que revelou claramente uma denúncia contra todas as formas de divisão e de desordem que este mundo continua a levantar diante de si para se afastarem uns dos outros, suscitando ódios e vinganças desnecessárias. Este gesto deve ter incomodado profundamente as autoridades israelita que promovem e legitimam este muro betuminoso para fomentar a divisão entre povos.
Lembro o encontro interessante do Papa Francisco que se reuniu no domingo passado com o patriarca ortodoxo de Constantinopla, Bartolomeu, na Basílica do Santo Sepulcro, em Jeruslém, para um encontro ecumênico histórico pela união entre os cristãos do Ocidente e do Oriente. Aqui o Papa explicou o significado deste encontro: «Nessa basílica, para a qual todo cristão olha com profunda veneração, chega a seu ápice a peregrinação que estou fazendo junto com meu amado irmão em Cristo, Sua Santidade Bartolomeu», disse o papa.
Logo depois também afirmou  Papa que «Peregrinamos seguindo as pegadas de nossos predecessores, o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras, que, com audácia e docilidade ao Espírito Santo, tornaram possível, há 50 anos, na Cidade Santa de Jerusalém, o encontro histórico entre o Bispo de Roma e o Patriarca de Constantinopla».
À celebração «ecumênica», marcada por cânticos e solenidade, assistiram representantes das diversas confissões cristãs, entre elas greco-ortodoxos, armênios ortodoxos e franciscanos, os quais oraram juntos e publicamente pela primeira vez nesse lugar sagrado para o Cristianismo.
Na declaração, de dez pontos, Francisco e Bartolomeu se comprometeram a respeitar «as legítimas diferenças, pelo bem de toda a Humanidade». Também concordaram em trabalhar para que «todas as partes, independentemente de suas convicções religiosas, favoreçam a reconciliação dos povos». Um momento de relevada importância para reconciliação e par ao entendimento entre os cristãos.
Mas a cereja em cima do bolo está no convite que é feito aos dois líderes dos países desavindos, Palestina e Israel. O Papa Francisco convidou em Belém, o presidente de Israel Shimon Peres, e o presidente palestineano, Mahmud Abbas, a orar pela paz no Vaticano. O convite foi feito assim: «Quero convidar o presidente Abbas e o presidente Peres para que, junto comigo, elevemos a Deus uma oração pela paz. Ofereço minha casa, o Vaticano, para esse encontro de oração», disse, de maneira inesperada, no fim da missa. Brilhante gesto. Não o faz no sentido de virem à casa do Papa para negociações, mas a rezarem pela paz. Melhor é impossível.
Mas, há mais gestos densamente políticos que saliento só para nos fazer pensar e aprendermos o quanto a nossa vida perecisa de ser vivida com gestos simbólico, mas carregados de mensagem que reconciliem e convoquem para o caminho da paz.
1.Papa Francisco beija a mão de um sobrevivente dos campos de extermínio nazistas
2. Jerusalém, Cidade de Paz: Papa Francisco e o presidente de Israel, Shimon Peres, plantam uma oliveira no jardim do palácio presidencial.
3. Papa reza pela paz junto ao Muro da Lamentações
4. O Papa Francisco abraçou-se com o seu amigo o rabino judeu Abraham Skorka e o muçulmano Ombar Abboud em frente ao Muro das Lamentações em Jerusalém, numa cena que já foi denominada como o «abraço das três religiões»: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Parte II

Ser homossexual é um sofrimento, não uma escolha nem um pecado em si

Quem dá seu testemunho é Philippe Ariño, homossexual espanhol de 34 anos, que atualmente leciona em Paris




Os ativistas podem aplaudir quando você fala, mas você só é visto em suasexualidade, como se fosse um animal ou um indivíduo de série B que precisa ter direitos especiais. É por isso que eu digo que somos os piores inimigos de nós mesmos. Na Igreja, no entanto, encontrei pela primeira vez alguém que me acolheu como pessoa, levando em consideração tudo o que o Philippe é.

Você costuma afirmar que a homossexualidade está se propagando. Por quê?

A identidade é cada vez mais frágil. Propaga-se porque o homem e a mulher, também os que moram juntos, muitas vezes não reconhecem a beleza da diferença e já não se encontram. Não sabem por que se casam, estão juntos mas ao mesmo tempo sozinhos, vivem a relação de maneira egoísta e não entram em comunhão. Só sobra o sentimento, enquanto este durar.

Por que os dois sexos se sentem tão distantes e alheios um do outro?

Penso que, quando se corta o vínculo com Deus, tudo se torna inimigo nosso, e então também surge a desconfiança entre o homem e a mulher. No entanto, as pessoas deveriam se casar para ajudar-se mutuamente a voltar Àquele que as criou: onde o homem não chega, chega a mulher. Do contrário, resta apenas a possessão que divide. E tudo isso prejudica os filhos. Se não partimos dessa consciência, nunca resolveremos o problema. Se jogamos a partida em outros campos, já a perdemos.

A que você se refere?

A ministra francesa de Justiça, Christiane Taubira, mãe da lei sobre o casamento gay, começou dizendo que era preciso distinguir entre casamento heterossexual e homossexual. Isso é uma mentira terminológica que não se ajusta à realidade e que não podemos aceitar. É preciso dizer que a heterossexualidade não existe: existem apenas o homem e a mulher, diferentes e complementares.

Além disso, não se deve excluir do debate a questão homossexual em si mesma. Se ela está se propagando, é responsabilidade de cada um de nós entender o que é e de onde vem, fazendo compreender o que estamos enfrentando. Pelo mesmo motivo, sempre digo que não é suficiente fazer um discurso cujo ponto de partida seja o direito das crianças, mas no qual se omite e tolera com indiferença as relações homossexuais. Só entendendo o sofrimento que deriva disso, e o fato de que se trata de uma amizade ambígua, incapaz de amor, se compreende que o único leito de crescimento para uma criança é a família com pai e mãe.

Inclusive nos casais do mesmo sexo mais estáveis, nos quais se busca o respeito, não há felicidade. Conheço alguns e muitas vezes são precisamente eles que me entendem. Durante uma conferência, um homem que vivia uma união estável há mais de 20 anos, me disse: "Como você tem razão!". Outros se perguntam: "Mas que vida estamos vivendo?". Quando a pessoa entende isso, já não pode dizer: "Coitados; vamos deixar que vivam como quiserem" e fazer o papel de "caridosos", como ocorre hoje.

O que acontecerá com as crianças que crescem nesse novo modelo de "família"?

Se a criança não aprende a beleza da diferença, não será capaz de amar. Uma sociedade que finge exaltar as diferenças, mas depois as trata como uma ameaça, está educando uma geração que não saberá acolher o outro. Vivemos em um mundo que se recusa a encarar a realidade, com suas contradições e limites, como os da sexualidade – vista hoje como um perigo. Esta deformação da realidade humana está conduzindo a um colapso antropológico. E quanto mais avançarmos neste sentido, mais crescerão as formas de solidão, neurose e violência.

O que se pode fazer?

Respeitar a realidade e tentar voltar a entender sua finalidade. No que diz respeito a mim, eu digo que Jesus, sua verdade e a Igreja são o caminho para amar, ser amado e servir.

(Artigo publicado originalmente por Religión en Libertad)

terça-feira, 27 de maio de 2014

Parte I

Ser homossexual é um sofrimento, não uma escolha nem um pecado em si

Quem dá seu testemunho é Philippe Ariño, homossexual espanhol de 34 anos, que atualmente leciona em Paris



© DR

Blogueiro e participante do universo ativista LGBT, começou-se a falar dele em 2011, quando Phillipe Ariño revelou que havia mudado de vida. Em 2013, ele guiou, em primeira linha, a batalha contra a legalização do "casamento para todos" francês; é autor do livro "L'homosexualité en vérité", que na França vendeu mais de 10 mil cópias.

Foi ele quem aconselhou Frigide Barjot, ex-porta-voz da "Manif pour tous", que não falasse de "heterossexualidade", porque "assim se perde não só a batalha, mas também a guerra".

Entrevistado por Tempi.it, Ariño explica que, "para salvar o ser humano, é preciso ir à origem do problema. É isso que tentamos fazer nas ruas com os veilleurs" (os "veladores").

Conte-nos sua história. Como você cresceu?

Eu tinha uma péssima relação com o meu pai e, na adolescência, eu não conseguia fazer amizades masculinas. Depois entendi e reconheci que minhas tendências homossexuais eram sintoma de uma "ferida": só dessa maneira meu sofrimento começou a diminuir.

Ser homossexual é um sofrimento; não é uma escolha, um pecado ou algo inócuo. Conheço mais de 90 pessoas com pulsões homossexuais que foram estupradas. Agora, o mundo LGBT me odeia porque conto isso, mas eu repito a eles também: a homossexualidade é uma ferida que não se alivia fazendo sexo. Se você não admitir isso, nunca terá paz.

Quando sua forma de entender a homossexualidade mudou?

Em 2011, descobri a beleza da continência. Eu havia começado a reconhecer que alguma coisa não estava bem e voltei à Igreja. Durante uma conferência, falei da minha situação e percebi que me ajudava. E não só isso: explicando o meu drama, consegui ajudar muitas pessoas, incluindo homens e mulheres casados.

Foi difícil?

EU encontrei um caminho, mas há muitos. Outros também conseguem superar estas pulsões; eu descobri que, reconhecendo a minha ferida e oferecendo-a a Cristo e à Igreja, minha condição dolorosa se transforma em uma festa. Ao não praticar a homossexualidade, não estou dizendo "não" às minhas pulsões, mas "sim" a Deus: é um sacrifício para ter o melhor, o máximo, algo que antes eu não tinha. Podemos pensar que o Senhor só nos ama se estivermos bem, mas acontece o contrário: Ele ajuda quem precisa dele e, se você lhe oferece os seus limites, Ele faz grandes coisas.

Por que as relações homossexuais não o faziam feliz?

Ao me relacionar com outros homens ou olhar para eles de maneira possessiva, eu sentia satisfação no momento. Mas estava sozinho e nunca me sentia completo. É então que caímos na ilusão de achar que podemos viver a sexualidade como os outros, mas, na verdade, a sexualidade só pode ser vivida na diferença sexual.

O que mudou concretamente na sua vida?

Antes, eu me sentia sempre inferior aos homens, porque ahomossexualidade é invejosa. Agora, após descobrir que Deus me ama e que sou seu filho, querido e amado, não me sinto inferior a nenhum homem. Assim, depois de muitos anos, descobri a beleza da amizade masculina, que eu não trocaria pelas relações do passado – quando eu fingia estar me realizando.

Pessoas como você, que abandonam seu passado, não são muito queridas pela comunidade LGBT. Como você se relaciona com o universo que frequentava?

Eles me colocaram na lista negra. Ficam me ameaçando e me etiquetam de homofóbico, mas eu não teria sobrevivido junto deles: é um mundo de mentiras, que exteriormente se mostra alegre, mas dentro está cheio de raiva e tristeza. A maioria dos atos homofóbicos e dos insultos contra as pessoas com tendências como as minhas provêm de pessoas que têm feridas como as minhas, que gritam e vociferam porque são frágeis.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Eleições Europeias: só cerca de 34% de votantes


3085 freguesias apuradas num total de 3092
 (Fonte  aqui)

1. Assina-se o baixo número de votantes que coloca Portugal entre os países europeus onde a abstenção foi maior.
2. Somando os brancos e os nulos, temos uma percentagem superior à quarta força política mais votada.
3. Existe um forte desencanto com os políticos que só aparecem na altura das campanhas eleitorais e que prometem uma coisa e depois fazem outra. Nota-se que, cada vez mais, os cidadãos confiam menos nos políticos.
4. A reforma do sistema político está por realizar. Interesses políticos instalados permanecem surdos aos apelos dos cidadãos que, de múltiplas formas, se fazem ouvir. Parece que só não os quer ouvir quem devia fazê-lo.
5. A campanha eleitoral é demasiado maçadora, repetitiva e enfadonha. Como dizem os mais novos, "não há pachorra!"
Ataques e mais ataques. Parece um lavadoiro! Confunde-se tudo e mais parecia uma campanha para as legislativas do que para as europeias. Ora se os portugueses pouco sabem sobre a Europa e os políticos não elucidam, que se quer depois? Indiferença...
6. A derrota do PSD/CDS era espectável, dadas também as medidas impostas pela troika e que o governo destes partidos teve de aplicar.
7. O PS ganhou as eleições, mas quer a vitória quer a diferença para a atual maioria são muito curtas, sinal de que o país ainda não esqueceu a "herança de Sócrates" e a atual direção do partido não dá  grande confiança aos eleitores. Face à austeridade e ao desemprego, era suposta uma vitória folgadíssima.
8. O BE continua a descer nas eleições. Parece esfumar-se cada vez mais a ideia do BE como a voz da contestação. Parece que, em cada ato eleitoral, a gente lusa se afasta do projeto político bloquista.
9. Contestação por contestação, pensarão os eleitores, é preferível o PC, mais organizado, mais enraizado, com uma história de alguma coerência, goste-se ou não do projeto comunista. Além disto, não sendo um partido assumidamente europeísta, recolhe votos de muita gente descontente com a Europa.
10. O Partido da Terra beneficiou imenso com o seu cabeça de lista, Dr Marinho e Pinto, figura mediática em cuja contestação muitos cidadãos se reviram. Falar claro e olhos nos olhos tem os seus frutos. Não alinho com os que acusam este eleito de populismo. Ele apenas deu voz ao descontentamento popular, sem papas na língua, para dizer o que devia ser dito. Resta agora saber qual o seu projeto político e como se bate por ele. Contestar assertivamente é bom, mas construir é ótimo e desejável.

domingo, 25 de maio de 2014

Dinheiro a mais...

Vai um brinde aos papas santos!

Parece que o Papa não gostou de uma festa com buffet, e se calhar bar livre, num terraço com vista para a Praça de São Pedro, durante a canonização de João Paulo II (ainda não consigo dizer "São João Paulo II" até porque penso logo no São João Paulo I) e de João XXIII...



...muito menos que um dos padres com responsabilidades num organismo vaticano servisse a Comunhão num recipiente da empresa de catering (não, não se vê o logo da empresa).


A festa só custou 18 mil euros, paga por patrocinadores privados, mas choca com o estilo que Francisco quer para a Igreja. A notícia, li-a no "Público". As imagens, copiei-as daqui. E há lá mais.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Uma raridade nos nossos tempos

Devolvem sofá com 30 mil euros


Os meios de comunicação trouxeram a notícia. Três estudantes norte-americanos deram uma lição de honra ao devolverem um sofá que haviam comprado, depois de descobrirem que havia dinheiro escondido no mesmo.Na mobília, que custara 20 dólares (pouco acima dos 14 euros) numa loja de usados do Exército da Salvação, alguém havia escondido num dos braços vários envelopes que, no conjunto, continham cerca de 30 mil euros.
"Eram envelopes e mais envelopes. Pusemos todo o dinheiro em cima da cama e começámos a contá-lo e a gritar. De manhã, os nossos vizinhos disseram que pensavam que nos tinha saído a lotaria", contou Cally Guasti, ao Telegraph.
Depois da inusitada descoberta, Cally, Reese Werkhoven e Lara Russo pensaram no que deviam fazer com o dinheiro. A decisão foi unânime: contactar o anterior proprietário, tanto mais que o nome constava no recibo do depósito.
Quando ligaram, atendeu uma senhora de 91 anos que contou a história do sofá. Num momento em que teve problemas de saúde, alguém da família dela resolveu ‘livrar-se’ da mobília velha.
Os três estudantes resolveram devolver o sofá com o dinheiro, tanto mais que a nonagenária "precisava muito dele". "No fundo, não era nosso. Se algum de nós o tivesse usado, não nos sentiríamos bem. Seria errado", argumentou Cally Guasti.
Fonte: aqui

quarta-feira, 21 de maio de 2014

ELEIÇÕES EUROPEIAS


1. Sei que não parece, mas estamos a escassos dias de mais umas eleições.
Ainda não sabemos os resultados, mas é possível, desde já, identificar o vencedor (ou, neste caso, avencedora): a abstenção.

2. Trata-se de uma vitória esperada, mas também perigosa.
De facto, a classe política só aparenta estar preocupada com o povo em vésperas de actos eleitorais. Como é que o povo não há-de afastar-se cada vez mais da política se a política se afasta cada vez mais do povo?

3. Há, porém, um perigo latente. Hoje, o mais distante é que comanda o mais próximo.
A vida das pessoas decide-se, em grande medida, entre Bruxelas e Estrasburgo. É, pois, muito arriscado deixar que as eleições mais decisivas sejam as menos participadas.

4. É claro que os protagonistas não ajudam. O tema é a Europa, mas o discurso incide, acima de tudo, sobre a política nacional.
Trata-se de uma opção inevitável. A Europa não passa apenas pelos grandes centros. Ela atravessa também os pequenos lugares. E, afinal, falar de Portugal é também falar da Europa.

5. O problema é que só se desça à realidade nestas alturas.
As eleições, para muitos, despontam como o único momento em que os representantes se submetem à vontade dos representados. Logo a seguir, os representados voltam a ficar submetidos às decisões dos seus representantes.

6. Importa, contudo, saber separar o trigo do joio. Ainda há muita gente digna, muita gente honesta.
E, depois, há que pensar que, não raramente, o que acontece na classe política é um reflexo do que ocorre entre os cidadãos.

7. Os políticos não serão um modelo de qualidades. Mas será que nós, cidadãos, seremos uma montra de virtudes?
Há, sem dúvida, muito que fazer com os outros. Mas não há menos que refazer connosco.

8. A regeneração, que tanto desejamos, tem de passar também pela base, por nós.
Não consintamos que a política continue a ser vista como um «problema deles», tanto mais que ela é, antes de mais, um «problema nosso».

9. Não podendo fazer tudo, poderemos fazer muito. Desde logo, não ficando em casa no próximo dia 25.
Votar é um direito que há-de ser encarado como um dever e assumido como um imperativo.

10. Estimado leitor, vote no próximo dia 25. Mesmo que lhe custe.
Vote por si. Vote por todos.

terça-feira, 20 de maio de 2014

VERGONHA É...

Os privilégios dos políticos e o Túnel do Marquês

Foto: Inquilinos do Túnel do Marquês!

INDECOROSO
acerca da sustentabilidade das reformas...

 VERGONHA é comparar a Reforma de um Deputado com a de uma Viúva.

VERGONHA é um Cidadão ter que descontar 35 anos para receber Reforma e aos Deputados bastarem somente 3 ou 6 anos conforme o caso e que aos membros do Governo para cobrar a Pensão Máxima só precisam do Juramento de Posse.

VERGONHA é que os Deputados sejam os únicos Trabalhadores (???) deste País que estão Isentos de 1/3 do seu salário em IRS.

VERGONHA é pôr na Administração milhares de Assessores (leia-se Amigalhaços) com Salários que desejariam os Técnicos Mais Qualificados.

VERGONHA é a enorme quantidade de Dinheiro destinado a apoiar os Partidos, aprovados pelos mesmos Políticos que vivem deles.

VERGONHA é que a um Político não se exija a mínima prova de Capacidade para exercer o Cargo (e não falamos em Intelectual ou Cultural).

VERGONHA é o custo que representa para os Contribuintes a sua Comida, Carros Oficiais, Motoristas, Viagens (sempre em 1ª Classe), Cartões de Crédito.

VERGONHA é que s. exas. tenham quase 5 meses de Férias ao Ano (48 dias no Natal, uns 17 na Semana Santa mesmo que muitos se declarem não religiosos, e uns 82 dias no Verão).

VERGONHA é s. exas. quando cessam um Cargo manterem 80% do Salário durante 18 meses.

VERGONHA é que ex-Ministros, ex-Secretários de Estado e Altos Cargos da Política quando cessam são os únicos Cidadãos deste País que podem legalmente acumular 2 Salários do Erário Público.

VERGONHA é que se utilizem os Meios de Comunicação Social para transmitir à Sociedade que os Funcionários só representam encargos para os Bolsos dos Contribuintes.

VERGONHA é ter Residência em Sintra e Cobrar Ajudas de Custo pela deslocação à Capital porque dizem viver em outra Cidade.

VERGONHA é os privilegiados, de que se fala, não pensarem na existência dos inquilinos do Túnel do Marquês!

VERGONHA é comparar a Reforma de um Deputado com a de uma Viúva....

VERGONHA é um Cidadão ter que descontar 35 anos para receber Reforma e aos Deputados bastarem somente 3 ou 6 anos conforme o caso e que aos membros do Governo para cobrar a Pensão Máxima só precisam do Juramento de Posse.

VERGONHA é que os Deputados sejam os únicos Trabalhadores (???) deste País que estão Isentos de 1/3 do seu salário em IRS.

VERGONHA é pôr na Administração milhares de Assessores (leia-se Amigalhaços) com Salários que desejariam os Técnicos Mais Qualificados.

VERGONHA é a enorme quantidade de Dinheiro destinado a apoiar os Partidos, aprovados pelos mesmos Políticos que vivem deles.

VERGONHA é que a um Político não se exija a mínima prova de Capacidade para exercer o Cargo (e não falamos em Intelectual ou Cultural).

VERGONHA é o custo que representa para os Contribuintes a sua Comida, Carros Oficiais, Motoristas, Viagens (sempre em 1ª Classe), Cartões de Crédito.

VERGONHA é que s. exas. tenham quase 5 meses de Férias ao Ano (48 dias no Natal, uns 17 na Semana Santa mesmo que muitos se declarem não religiosos, e uns 82 dias no Verão).

VERGONHA é s. exas. quando cessam um Cargo manterem 80% do Salário durante 18 meses.

VERGONHA é que ex-Ministros, ex-Secretários de Estado e Altos Cargos da Política quando cessam são os únicos Cidadãos deste País que podem legalmente acumular 2 Salários do Erário Público.

VERGONHA é que se utilizem os Meios de Comunicação Social para transmitir à Sociedade que os Funcionários só representam encargos para os Bolsos dos Contribuintes.

VERGONHA é ter Residência em Sintra e Cobrar Ajudas de Custo pela deslocação à Capital porque dizem viver em outra Cidade.

VERGONHA é os privilegiados, de que se fala, não pensarem na existência dos inquilinos do Túnel do Marquês!
 
(Recebido por email)

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Uma boa reflexão para que não se digam barbaridades

17 de maio: sem troika, mas com rédea


Há oito dias, o governo assinalou, em Conselho de Ministros alargado aos Secretários de Estado e, em parte, à Comunicação Social (realmente um megacomício legal, mas ilegítimo), a fabulosa decisão da saída limpa do programa de ajustamento. Alguns dos nossos policratas pré-saudaram o dia de hoje – 17 de maio – como o dia da restauração da soberania, o dia da independência – o novo 25 de Abril. Acabara a colonização europeia; tornáramos a ser um povo livre… Que discurso miserável, por clara inobservância da verdade!

Até alguém instalou algures em contexto de sede partidária relógio de contagem decrescente para o dia da saída da troika (segundo Portas, de recuperação: de salários, progressivamente; de pensões, substancialmente; e de rendimento, necessariamente com prudência orçamental e determinação política), que me faz lembrar os relógios do programa “pólis”, da era de Guterres.

Quase paralelamente ao referido solene megacomício de rosto protoinstitucional, soube-se que o FMI lançara alertas sobre o rumo não sustentável da economia e das contas e que não abre mão de compromissiva carta de conforto da parte do Estado português sobre a disciplina orçamental e da dívida. O próprio primeiro-ministro anunciou para hoje a aprovação, em Conselho de Ministros extraordinário, de um documento com as medidas de médio prazo. O Ministro das Finanças de Merkel saudou o feliz dia da tríplice recuperação apregoada por Paulo Portas. Durão Barroso ficou feliz por Portugal, que afinal cumpriu, mas acenando com o espantalho de possíveis decisões do Tribunal Constitucional (TC) a contragosto do governo. Marques Mendes, só cá entre nós, acha (é o seu “achismo”) que de facto o TC exagera. E Santana Lopes preconiza a abolição da fiscalização preventiva da constitucionalidade dos normativos legais.

Já todos falaram das novidades gravosas inscritas no DEO. O PIB decresceu e o ritmo das exportação abrandou; o défice orçamental contrai à custa de habilidades financeiras e burocráticas; a dívida aumentou em termos percentuais com relação ao PIB; e, se o TC inviabilizar o orçamento do estado e orçamento retificativo, teremos mais impostos.

Nas vésperas do dia em que se assinala o fim oficial do programa de ajustamento financeiro, um representante da Comissão Europeia avisa que, se o governo não tiver juízo, scilicet, se ceder a tentações de facilidades eleitoralistas e não cumprir o compromisso orçamental e da dívida, não bastará mesmo um programa cautelar, mas será necessário um segundo resgate. É mais um sintoma da índole de limpeza do fim do programa! A troika vai-se embora, mas não diz “adeus” a Portugal. Continua a fazer avaliação periódica de 180 em 180 dias (em vez de 90 em 90 dias). Quer dizer, ficamos sem troika, mas continuamos freados pela rédea e pelo cabresto!

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Hoje, o Governo reafirmou o compromisso de redução do défice até 2018 e da continuidade do ritmo das reformas nos próximos anos, mas assegurou que as principais medidas concretas apresentadas no âmbito da “estratégia de reforma de médio prazo” não vão além de 2015, o último ano da legislatura. O documento aprovado na manhã de hoje no Conselho de Ministros extraordinário denomina-se “Caminho para o Crescimento” e constitui-se como agregador das diversas reformas já feitas, as que se encontram em execução e as que terão de ser feitas nos próximos anos. É um “piscar de olho” aos parceiros europeus e aos investidores internacionais, redigido em português e em inglês, mas onde o Governo não assume compromissos concretos para lá de 2015. A exceção acontece nos objetivos para o défice e para a dívida, que vão até 2018, e já constam do Documento de Estratégia Orçamental (DEO) apresentado no fim de abril.

As “principais medidas previstas” formam uma lista que o Governo entende não ser exaustiva e que gravita em torno de três eixos ou metas globais: para “fomentar a competitividade”; para “promover o capital humano e o emprego”; e para “racionalizar o setor público”.

Ademais, o que o Governo assume para depois de 2015, ano de eleições legislativas, são objetivos abrangentes já conhecidos, como: redução da dívida tarifária até 2020; aumento do crescimento das exportações; implementação do novo quadro comunitário de apoio (Portugal 2020); continuidade da Estratégia Nacional para o Mar, aumentando o peso do setor no PIB até 2020; e garantia da aplicação do Plano Estratégico dos Transportes e Infraestruturas.

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Todavia, em resposta aos jornalistas que o confrontaram com o facto de Passos Coelho ter prometido a apresentação da estratégia de médio prazo e o documento conter apenas medidas até 2015, o ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares esclareceu que o documento “claramente tem um fôlego de médio prazo” e que “coisa diferente é o anexo onde vêm as medidas previstas”, já que o Governo apenas se compromete com as medidas que pode executar “no seu mandato” e o executivo que sair das próximas legislativas “terá de elaborar o seu roteiro”. Além do horizonte da legislatura, mantêm-se as “intenções e os objectivos a alcançar”.

Por seu turno, no prefácio do documento, Passos Coelho elogia o esforço dos portugueses e os resultados que o Governo alcançou e diz apostar nesta “ambiciosa estratégia de médio prazo com convicção e credibilidade”, advertindo que “há, no entanto, ainda muito a fazer.Reformar é uma tarefa contínua; a disciplina orçamental uma responsabilidade diária”.

Reconhecendo, à La Palisse, que “os tempos difíceis passam, mas os países fortes perduram”, afirma que “Portugal foi determinado e soube reerguer-se”. E sentencia: “Devemos prosseguir os esforços para garantir uma economia equitativa, equilibrada e dinâmica, geradora de emprego, e que privilegie a excelência e a inovação, mas acompanhada por uma verdadeira rede de proteção social, sob a forma de um Estado social justo e eficiente”. Como crer nisto?

Também Carlos Moedas afirma que o documento integra um acervo de medidas e reformas já apresentadas para diversas estratégias setoriais, e até o guião da reforma do Estado. E justifica a elaboração da versão inglesa sob o título de The road to growth com o facto de estes planos já conhecidos, em boa parte, pelos portugueses serem “praticamente desconhecidos fora de fronteiras, pelos parceiros internacionais e os investidores”. E adita que “podíamos acabar o programa de ajustamento dizendo que o trabalho estava feito. Mas não o podíamos parar”. Uma parte do documento configura uma retrospetiva das medidas cumpridas (e não das que precisam de concretização) durante os três anos da troika. Antes de identificar a sua estratégia global para o lançamento das “bases sólidas para o crescimento”, o Governo recua no tempo para reler os “antecedentes da crise”. E Moedas conclui que “aquilo que realmente é fundamental é que haja uma irreversibilidade de todas estas reformas estruturais. Em Portugal ninguém quer voltar para trás. Os portugueses não querem voltar para trás”, mas também é imperioso compreender que o Governo precisa de “falar para o mundo” e explicar a sua estratégia.

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Dada a premência da matéria e a importância estratégica do momento, não posso passar em silêncio a posição de vários dos responsáveis católicos e especialistas que a Agência Ecclesiaquestionou e que assentam na afirmação de que “o programa de assistência económica e financeira a Portugal, que se conclui hoje, deixou um país mais pobre e ainda sujeito a riscos”. Trata-se de entidades com a autoridade que lhes advém dos relevantes cargos que ocupam e/ou do significativo teor da intervenção intelectual sobejamente reconhecida. 

Assim, o presidente da Cáritas Portuguesa opina que “foi um tempo violentíssimo para as pessoas que já viviam em situações vulneráveis e arrastou para a pobreza gente que nunca pensaria chegar à condição de privação de bens básicos para a sua subsistência”.

Por seu turno, D. Jorge Ortiga, arcebispo primaz e presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, faz o balanço dos três anos de troika advogando que se impõe como necessário “recuperar um ambiente de sobriedade”, na vida pessoal e coletiva, evitando “desperdícios e desigualdades sociais, escandalosas”.

O Professor Adriano Moreira, subscritor do ‘manifesto dos 70’ apelando à reestruturação da dívida, especifica que não se exige o “perdão”, mas “a extinção da ganância”, sublinhando que “o credo do mercado precisa de ser limitado e regulado por uma ética”. Para o especialista, “há muito sacrifício que ainda vai ser enfrentado”, pois o país assiste à saída dos “empregados da troika”, e não ao fim da vigilância internacional ou da austeridade. É o que eu digo: ficamos sem troika, mas não sem rédea e cabresto, ou seja, somos travados na mesma, mas de longe!

Na ótica do economista João César das Neves, docente da Universidade Católica Portuguesa, a ‘saída limpa’, editada pelo Governo após a última avaliação da troika, comprova a “rápida” recuperação do país, o que permite pensar em “exemplo de sucesso”. Porém, o professor não deixa de alertar para algum excesso de otimismo por parte de alguns nesta fase.

Também Graça Franco, diretora de informação da Rádio Renascença, destaca a “apetência” dos mercados pela dívida portuguesa, observando, no entanto, que “essa apetência pode desaparecer de um momento para o outro”, levando a aumento das taxas de juro. A especialista recorda ainda os números ligados ao desemprego em Portugal, um problema “gravíssimo”, advertindo que haverá “pessoas que ficaram de fora do mercado de trabalho com esta crise e que não vão voltar a ele”, o que, “do ponto de vista da estrutura social, é muito grave”.

O sociólogo João Peixoto, coordenador do projeto de investigação ‘Regresso ao Futuro: a Nova Emigração e a Relação com a Sociedade Portuguesa’, rotula de “trágico” o impacto dos últimos anos no plano demográfico, induzindo uma “mudança de paradigma” do ângulo dos fluxos migratórios, a evocar a década de 60 do século XX. “Hoje não temos excesso de população na agricultura, não temos população iletrada, antes pelo contrário. Se as saídas na altura provocavam preocupações, hoje provocam outras, talvez maiores”.

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Se eu fosse supersticioso, sugeriria que fizessem figas para que este dia de libertação não redunde em PREC (processo de retração económica continuada). Como não o sou, postulo juízo e negociação aguerrida dos governantes e trabalho com oração e posição crítica dos portugueses.

2014.05.17

Louro de Carvalho