Na tradição da Igreja, o quarto domingo da Páscoa é consagrado à oração pela vocação de pastores. Se a Igreja é constituida por todos os cristãos, alguns deles são escolhidos por Deus, para guiar as comunidades no tríplice ministério profético, sacerdotal e pastoral. Com razão, no Evangelho de Lucas, Jesus pede aos discípulos que “rezem ao Pai para que mande operários para a sua messe, porque a messe é grande e os operários são poucos” (cf Lc 10,2). Para envolver as comunidades cristãs nesta oração pelos pastores da Igreja, a liturgia tem três textos da maior exigência. É Jesus o Bom Pastor e é em Jesus que todos os pastores da Igreja fundamentam a sua acção. Poderão referir-se três momentos de reflexão: a exigência do ser cristão, a certeza de que só Jesus é o Bom Pastor e que, na dificuldade, o Senhor está sempre perto de quem o ama.
Neste discurso de Pedro, na manhã de Pentecostes, os judeus de Jerusalém, que o veem testemunhar a ressurreição de Cristo, perguntam-lhe: se é assim como tu dizes, se Cristo ressuscitou, o que temos então de fazer?” A resposta de Pedro é dada em seis notas de extraordinária importância. Pedro diz assim: “Aceitem a senhoria absoluta de Jesus ressuscitado, arrependam-se de tudo o que esteve mal na vossa vida, deixem-se conduzir pelo Espírito, traduzam a vossa fé pelos sacramentos, imitem o testemunho daqueles que vos precederam na fé e vivam em comunidade” (cf. Act 2, 32-47). Estes são os elementos para ser cristão, dando com isso testemunho da ressurreição de Cristo.
Nunca se será capaz de viver até ao fim esta exigência sem o auxílio de Cristo, Bom Pastor. Ele conhece as suas ovelhas, chama-as pelo seu nome, procura-as quando elas se afastam, acolhe-as e trá-las para o aprisco, ama-as e apoia-as incondicionalmente sempre. Jesus, Bom Pastor, é a porta das ovelhas. Outros não entram pela porta. Mas, em Jesus, Bom Pastor, a felicidade é possível.
Por vezes, na vida dos cristãos, acontecem grandes sofrimentos. Unidos à Paixão de Jesus Cristo, todos os cristãos são convidados a superarem as dificuldades, continuando a terem em Cristo o sentido para a própria vida. Se este abandono em Cristo Ressuscitado é elemento a ser vivido por todos os cristãos, muito mais para os pastores a identificação com Cristo se torna o paradigma da consagração.
Neste dia do Bom Pastor, todos os cristãos fazem oração pelos consagrados e todos os consagrados se entregam totalmente para viverem os gestos de ternura do Bom Pastor.
Monsenhor Vítor Feytor Pinto (in Revista Liturgia Diária, ed. Paulus)