Agenda Paroquial:

sexta-feira, 28 de junho de 2013

A missão da Igreja




O Papa Francisco já por diversas vezes usou esta expressão: «A igreja não é uma ONG». As "ONGs" (Organizações não governamentais) têm por objectivo acudir a necessidades muito concretas, sobretudo materiais, de sociedades ou grupos de pessoas com determinadas carências: falta de alimentos, de água, de escolas, de cuidados de saúde, etc..
Com dezenas de milhares de Centros de Apoio Social, hospitais, escolas, etc., a Igreja pode ser vista por muitos como uma grande empresa de serviços sociais. E pior ainda, se os seus agentes se esquecem do seu objectivo principal: levar o Evangelho de Jesus Cristo a todas as pessoas. A frase do Papa Francisco, que já tinha sido usada pelos seus antecessores, merece, por isso, reflexão. Não se trata de abandonar o empenho na transformação social, que hoje vemos como parte integrante da evangelização. Trata-se, sim, de não esquecer a sua principal missão.
«Que missão é que tem este povo?», perguntava o Papa no passado dia 12 de Junho. E respondia: «Aquela de levar ao mundo a esperança e a salvação de Deus: ser sinal do amor de Deus que chama todos à amizade com Ele; ser fermento que faz fermentar toda a massa, sal que dá sabor e preserva da corrupção, luz que ilumina."
A missão do Povo de Deus é levar ao mundo a certeza de que Deus nos ama a todos e nos foi preparar um lugar para depois de alguns anos neste mundo podermos viver com Ele no Reino dos Céus.
Foi nesta Fé que viveram os santos e muitos dela deram testemunho no próprio martírio. Mesmo os santos que se dedicaram predominantemente ao serviço dos pobres, como Teresa de Calcutá ou o Padre Américo, nunca esqueceram esta dimensão espiritual.

Fonte: aqui

quinta-feira, 27 de junho de 2013

«Os jovens já não são os de antigamente»

 

Um texto a não perder... Uma análise crua sobre a realidade da Igreja e da adesão dos jovens a ela. Para ler com calma, reflectindo bem. 
 
Se não renovar a sua ligação com as novas gerações, a Igreja da Europa está naturalmente destinada a desaparecer. Sem jovens, com efeito, as paróquias morrem, por simples falta de reposição de gerações; sem paróquias, enfraquecem até ao esgotamento total as associações e os movimentos, que, apesar de todas as afirmações em contrário, continuam a encontrar precisamente aí os seus adeptos.

Se não mudar de rumo, a Igreja transformar-se-á numa presa que corre o risco de não fidelizar (jamais palavra alguma foi tão apropriada!) novos clientes. Nunca deveríamos esquecê-lo.

Contudo, as estratégias atuais para retomar o diálogo com os jovens não se revelam muito convincentes. Na verdade, não são eficazes. Ainda outro exemplo: a que critérios corresponde o horário das missas dominicais da maior parte das paróquias? Dá a impressão de que são os mesmos que foram adotados na sequência da introdução da missa em língua vernácula no pós-Concílio.

Ao mesmo tempo, porém, a sociedade mudou radicalmente, passando de um modelo substancialmente agrícola para um modelo pós-industrial: o mundo atual tornou-se assim mais noturno e menos fascinado pelas primeiras luzes da aurora, ou seja, um mundo que gosta de ir para a cama precisamente com as primeiras luzes da aurora. Sobretudo da aurora que separa ou une o sábado ao domingo. Qualquer um perceberá por si mesmo que há qualquer coisa, também nesse âmbito, que deveria mudar.

Chegados a este ponto, a interrogação é esta: o que está subjacente à pouca atenção prestada à realidade juvenil por parte da comunidade crente? O que é que a impede de se deixar levar por um profundo abalo interior e exterior, ao programar as suas atividades destinadas aos jovens? Como é que ela consegue continuar a dormir, enquanto o terreno do seu possível futuro se vai esboroando lentamente, pelo menos na Europa?

O ponto nevrálgico sobre o qual assenta toda esta questão diz respeito à elaboração falhada da distância efetivamente existente entre o jovem destinatário ideal das iniciativas eclesiais implementadas e o perfil real dos jovens de hoje, aqui sumariamente identificados como pertencentes à geração sem antenas para Deus. Uma distância ofuscada, aliás, pelo recente uso identitário da religião por parte dos próprios jovens, na esteira do modelo da pertença sem crença, ou seja, de um singular «Igreja sim, Cristo não».

Por isso, embora apercebendo-se dos comportamentos juvenis alheios a ritos em matéria de fé e de moral (et quidem de moral sexual), da sua deserção da missa dominical, do seu analfabetismo bíblico e teológico, na Igreja continuamos a tranquilizar-nos afirmando que os jovens já não são os de antigamente. Em suma, que passe a ser «normal» que os jovens não sejam normais. Que não haja nada de particularmente preocupante no desvio dos seus estilos de vida e de pensamento do cânone tradicional de sabedoria humana e cristã. Mas, depois, ficamos sem palavras – esta, sim, uma característica típica dos adultos contemporâneos – frente a comportamentos aterradores de que são protagonistas os próprios jovens.

É precisamente aqui que se deve identificar a raiz primordial daquela baixa qualidade de atenção de que parecem gozar os jovens de hoje por parte do mundo eclesial. E não só. Também há que ter em conta, de um modo mais geral, a permanente dificuldade e resistência de muitos crentes em se ajustar à realidade da mudança de época do nosso tempo.

A condescendente retórica de um mundo que está a mudar, aliás, um dado adquirido para toda a realidade viva, parece impedir, mais do que facilitar, a plena assunção do facto de que o mundo já mudou. E de modo radical! Isso impõe a necessidade de redefinir o perfil de um crente à altura da mudança ocorrida. Com efeito, se no passado podia ser suficiente a simples catequese sacramental e a frequência das «festas obrigatórias» para ter o título de «crente», tendo em conta que muitos dos comportamentos atuais (divórcio, aborto, etc.) eram perseguidos pela lei ou tecnicamente impossíveis (intervenções estéticas, mudança de sexo, etc.), e que também era tido em conta o caráter exemplar dos personagens públicos e a atitude digna da sociedade no seu conjunto, atualmente tudo isso já não é suficiente. Para «fazer» um crente é preciso mais do que isso. É difícil que tudo isto passe a ser uma opinião partilhada.

Como explicar, por outro lado, a extraordinária lentidão com que a comunidade eclesial se vê a si própria – e aqui não estamos a falar da invenção de novas formas e de novos movimentos, pois já os há em número suficiente – em relação à incredulidade que enforma a geração juvenil? Ou como justificar a surpreendente repetitividade de liturgias e de eventos que marca o ano pastoral das paróquias e dos oratórios, das associações e dos movimentos? Parece-nos estar a assistir a uma viragem de época de alcance singular: o Cristianismo, que graças à sua origem judaica rompera o conceito cíclico do tempo, típico da cultura grega, em favor de um futuro que apela sempre a coisas novas, está hoje cada vez mais dominado por aquilo que, com fina ironia, Nietzsche definia como o seu monótono-teísmo!

Os jovens – e que isto seja acolhido como verdade até ao limite máximo em que um conceito pode descrever a realidade – já não são os de antigamente, no que diz respeito à prática religiosa. Já não provêm de famílias que os tenham instruído o suficiente sobre os valores da sabedoria tradicional, já não frequentam as aulas de uma escola capaz de lhes transmitir o sentido global de uma formação humana e de um substrato cristão. Ninguém lhes deu testemunho da importância de uma vida de fé e de oração, de uma leitura constante do Evangelho, de uma atitude de humildade e de fraternidade. Já não são os de antigamente: a única ressurreição de que tiveram conhecimento foi a da bela morena Taylor da série televisiva Beautiful... Muito diferente da ressurreição de Jesus Cristo!

Frente a estes jovens, a comunidade dos crentes é chamada a transformar-se, a fazer-se solidária com os jovens casais com cada vez mais dificuldades em serem iniciados ao humano e ao Evangelho, e com os mestres únicos da nossa escola primária, cada vez mais oprimidos pelo mito do desempenho.

Não se trata, certamente, de atribuir culpas ou de fazer juízos, mas de ler a realidade que está à vista de todos. Os jovens mudaram porque o mundo mudou; o Ocidente mudou, a família mudou, a escola mudou...; porque não havia de mudar também a Igreja?

O passo a dar pode ser facilmente enunciado em termos teóricos: consiste em transformar as comunidades eclesiais – de modo particular as paróquias, mas também, em certa medida, as associações e os movimentos – em «lugares» onde se aprenda a acreditar e onde se aprenda a rezar. Lugares onde se possa decidir crer. Lugares onde se gere a fé. Lugares à medida daqueles laboratórios da fé, desejados por João Paulo II. Lugares em que os próprios jovens possam confrontar a sua ignorância em relação ao Jesus do Evangelho e ao Evangelho de Jesus, e as suas pretensões infantis em relação à existência e à Igreja; lugares de repouso, de liberdade, de passagens e de paisagens a contemplar, a admirar, a interrogar e a pôr à prova; lugares onde elaborar o mal-estar cultural que atormenta as pessoas; lugares facilmente transitáveis, subtraídos à mania clerical da diaconia a todo o custo, em favor de um simples seguimento.

Trata-se, em suma, por parte dos adultos crentes, de tomar consciência de que, para os jovens de hoje, a fé é uma língua estrangeira. E cada um sabe como é difícil aprendê-la em idade madura, e como pode ser igualmente complicado ensiná-la a quem já não é criança. É este o desafio: a fé já não é uma opção hereditária, mas uma decisão que deve ser preparada e promovida.

À luz das reflexões conduzidas até aqui, não parece haver outros caminhos a percorrer. Como é óbvio, ninguém tem, a esse respeito, receitas prontas, no horizonte não se destaca nenhum padre tipo Harry Potter que, com uma poderosa varinha mágica, abra «novos céus» e «nova terra» para a pastoral dedicada aos jovens. Tal facto, porém, não exonera ninguém do trabalho de procurar «provas partilhadas», de perscrutar a tradição, mas, sobretudo, de experimentar novos caminhos. Seguindo, no entanto, uma trajetória precisa: não se tratará de concentrar a atenção apenas numa ação especificamente projetada para os jovens. É antes o tecido quotidiano, ferial, ordinário de toda a comunidade cristã que deverá testemunhar uma generosa abertura e atenção em relação aos mesmos, a partir dos cânticos e dos horários da missa, de um renovado investimento da sua presença na universidade e nos locais de trabalho, de uma renovação das dinâmicas culturais que apoiam o anúncio, do assumir aquela emergência educativa para a qual Bento XVI apelou vigorosamente à opinião pública.
Armando Matteo, In A primeira geração incrédula, ed. Paulinas, aqui

quarta-feira, 26 de junho de 2013

El miedo al Papa y el miedo a los pobres

Veja aqui
 
Basta ver alguns blogues e sites tradicionalistas para facilmente nos apercebermos que o Papa Francisco  não é dos seus amores...
Aliás, embora menos salientado na comunicação social, o Papa tem advertido contra certos grupos restauracionistas.
Não me refiro só aos grupos fundamentalistas existentes no seio da Igreja. Também  os conservadores, sempre tão exímios no "culto da personalidade" no tocante ao Papa, andam bem mais modestos e cautelosos. Sinal de que algo não lhes está a cair bem...
Nestes 3 meses de Papa, Francisco tem-se centrado e concentrado no Evangelho. Não cessa de falar de Jesus, do que disse e fez Jesus. E se está identificado com Jesus, eu sinto-me identificado com o Papa.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Eleições para as Autarquias

Eleições autárquicas em dia 29 de Setembro.

A marcação da data das eleições tem que se verificar, com a publicação do decreto, até ao dia 11 de Julho, e a apresentação das candidaturas tem que ocorrer até ao dia 5 de Agosto.

Veja aqui

segunda-feira, 24 de junho de 2013



Um dia uma Mãe disse-me:
«Estava eu na cozinha a preparar a refeição, quando ouço a minha filha aos gritos, a ralhar com alguém: – Vais levar umas palmadas! És muito mau!
Pensei que a miúda estava a querer bater no irmão mais novo, ainda bébé, que chorava convulsivamente. Afinal a Rita ralhava com o seu boneco e atirou-o contra a mesa do quarto, quebrando estrondosamente... uma peça de porcelana.
Entrei, ralhei com ela e ameacei bater-lhe. A pequena disse-me que o boneco não lhe tinha deixado vestir o casaco, por isso tinha berrado com ele e o tinha atirado contra a parede».
Aquele episódio tinha aberto os olhos àquela mãe. Tinha de ter mais cautela como lidava com as pessoas de casa.
As crianças aprendem o mal e o bem na família. As palavras e as atitudes agressivas marcam profundamente os filhos. Uma criança tratada com carinho será carinhosa. Ameaçada com berros e pancada, irá um dia fazer da mesma forma.
Não mais esquecerei aquela entrevista radiofónica com crianças maltratadas na família. Um deles dizia que queria ser grande para fazer como o pai, que batia na mulher e nos filhos.
Do trato nervoso com as crianças só há que esperar jovens rebeldes e mal educados. Afinal como diz a palavra «mal-educado». Não se educa bem se não for com carinho. A disciplina é fundamental mas inculca-se com persistência e amor.
A boa ou má educação é sobretudo a de casa. A outra terá os seus efeitos positivos ou negativos mas menos essenciais.
Fonte: aqui

domingo, 23 de junho de 2013

Atração


Hoje, quando a fé se apresenta tão difícil e a linguagem sobre Deus parece tão velada, Jesus Cristo mantém um grande poder de atração.

Yves Congar

sábado, 22 de junho de 2013

Tema do 12º Domingo do Tempo Comum - Ano C

A liturgia deste domingo coloca no centro da nossa reflexão a figura de Jesus: quem é Ele e qual o impacto que a sua proposta de vida tem em nós? A Palavra de Deus que nos é proposta impele-nos a descobrir em Jesus o “messias” de Deus, que realiza a libertação dos homens através do amor e do dom da vida; e convida cada “cristão” à identificação com Cristo – isto é, a “tomar a cruz”, a fazer da própria vida um dom generoso aos outros.
O Evangelho confronta-nos com a pergunta de Jesus: “e vós, quem dizeis que Eu sou?” Paralelamente, apresenta o caminho messiânico de Jesus, não como um caminho de glória e de triunfos humanos, mas como um caminho de amor e de cruz. “Conhecer Jesus” é aderir a Ele e segui-l’O nesse caminho de entrega, de doação, de amor total.
A primeira leitura apresenta-nos um misterioso profeta “trespassado”, cuja entrega trouxe conversão e purificação para os seus concidadãos. Revela, pois, que o caminho da entrega não é um caminho de fracasso, mas um caminho que gera vida nova para nós e para os outros. João, o autor do Quarto Evangelho, identificará essa misteriosa figura profética com o próprio Cristo.
A segunda leitura reforça a mensagem geral da liturgia deste domingo, insistindo que o cristão deve “revestir-se” de Jesus, renunciar ao egoísmo e ao orgulho e percorrer o caminho do amor e do dom da vida. Esse caminho faz dos crentes uma única família de irmãos, iguais em dignidade e herdeiros da vida em plenitude.

Padres dehonianos

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Esta do Sr. e do São ou Santo para tudo e para nada, é uma grandessíssima merda dentro da Igreja.


Sr. Paulo de Tarso

Diz o meu amigo Luís Silva, que leu o livro “S. Francisco de Assis”, de Chesterton, que há lá um certo bispo que se queixa que um não-conformista [basicamente, reformador dentro da Igreja Anglicana nos séculos XVI-XVIII] chama “Paulo” ao Apóstolo em vez de o tratar por  “São Paulo”. E acrescenta o bispo: “Podia ao menos tratá-lo por Sr. Paulo”.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Carta aberta ao Professor Nuno Crato


"Os diletantes são-no geralmente de ideias ou de emoções - porque para compreender todas as ideias ou sentir todas as emoções basta exercer o pensamento ou exercer o sentimento, e todos nós, mortais, podemos, sem que nenhum obstáculo nos coarte, mover-nos liberrimamente nos ilimitados campos do raciocínio ou da sensibilidade.” Eça de Queiroz



 Caro Professor Nuno Crato,

Acredite que é com imenso desgosto que lhe escrevo esta carta aberta.

Habituei-me, durante anos, a ler e a concordar com o muito que foi escrevendo sobre o estado do ensino em Portugal. Dos manuais desadequados à falta de exames capazes de avaliar o real grau de aprendizagem dos alunos; do laxismo instituído à falta de autoridade dos professores; do absoluto desconhecimento do que se passava nas escolas, por parte do Ministério da Educação à permanente falta de materiais e condições nas escolas. Durante anos, também eu me revoltei com a transformação da escola pública em laboratório de experiências por parte de políticos, pedagogos e supostos especialistas em educação. Foi por isso com esperança que me congratulei com a sua nomeação para Ministro da Educação do actual governo.

Por isso, Professor Nuno Crato, me surpreende que, à semelhança dos seu antecessores, não tenha sido capaz de resistir à tentação de transformar os seus colegas de profissão nos maus da fita, mandriões, calaceiros, incapazes de trabalhar míseras 40 horas por semana. Surpreende-me e entristece-me.

Sabe, Professor Nuno Crato, sou filho de professores e durante a minha infância e adolescência habituei-me a compartilhar o meu tempo, os meus livros, os meus cadernos e muitas vezes o meu almoço e o meu lanche, com os milhares de crianças que, ao longo de anos de esforço e dedicação, eles ajudaram a educar pelas aldeias mais recônditas do nosso país. Habituei-me a aguardar pacientemente a sua chegada tardia, os trabalhos para corrigir, as aulas para preparar, para que restasse um pedaço de tempo para uma história, uma conversa, um mimo. Nunca lhes pressenti na expressão uma nota de arrependimento, antes de felicidade, por um trabalho que adoravam fazer e que eu adorava que fizessem. E, não imagina o orgulho que sentia quando nos cruzávamos com muitos dos seus ex-alunos e lhes via no rosto uma expressão doce de eterna gratidão - Se não tivesse sido o Senhor Professor ...não sei o que teria sido de mim!

Depois, casei-me com uma professora e voltei a ter de me habituar a compartilhar o meu dia-a-dia, o meu computador, os meus tinteiros, os meus dossiers, o meu papel, as minhas canetas, com milhares de outras crianças e adolescentes. Voltei a ter de me habituar a aguardar a sua chegada tardia, os trabalhos para corrigir, as aulas para preparar. Com a diferença de agora, a tudo isso, se somarem milhares de páginas de legislação para ler, a grande maioria escrita num português que envergonharia os meus pais e grande parte dos seus ex-alunos; dezenas de relatórios para redigir; novas metodologias de ensino para estudar; manuais diferentes de ano para ano para analisar; telefonemas para pais de alunos problemáticos a efectuar; acompanhamento de alunos com dificuldades, reuniões de pais, reuniões de avaliação, reuniões de preparação, reuniões de grupo, assembleias de escola, visitas de estudo, estudo acompanhado, aulas de substituição, vigilância de exames. Confesso que ao longo dos anos, fui conseguindo roubar à escola, um pouco de tempo para mim. Mas, mesmo desse tempo roubado a custo, muito era passado a falar da desmotivação generalizada causada pelo desleixo, pela falta de objectivos, pela ausência de meios, pela violência, pela falta de autoridade, enfim, por tudo aquilo que o Professor Nuno Crato tão bem descrevia nas suas análises.

Durante estes muitos anos a viver com professores, nunca me passou pela cabeça perguntar-lhes quantas horas trabalhavam. Mas, fazendo um esforço de memória, sou capaz de contabilizar os milhares de horas que o seu trabalho para a escola roubou à minha família. Os milhares de refeições em conjunto que não se realizaram, os milhares de conversas que não pudemos ter, os milhares de madrugadas passadas em claro, os milhares de filmes que não vimos juntos, os milhares de músicas que não ouvimos, os milhares de livros que não lemos, os milhares de passeios que não demos.

Não sei se esses milhares e milhares de horas perfazem as tão badaladas 40 horas de trabalho por semana que agora se discutem, mas sei que se fosse professor estaria a favor dessas 40 horas de trabalho semanais, desde que realizadas integralmente na escola, sem nunca mais, ter de trazer trabalho para casa, de gastar uma gota de tinta do tinteiro da minha impressora, de ocupar um byte de memória do meu computador, de usar uma folha da minha resma de papel, de ocupar a minha sala com trabalhos de alunos, de perder as minhas noites, os meus fins-de-semana, os meus dias de descanso com a preparação de aulas, reuniões ou relatórios. Se assim for, pelo menos, numa coisa os professores passarão a ser efetivamente iguais a todos os outros funcionários públicos, que deixam o seu trabalho e os seus problemas laborais na porta de saída da repartição.

Infelizmente não acredito que assim seja e o que acontecerá é que os milhares de professores, mal pagos, mal amados, maltratados, continuarão a acumular às 40h que agora se pretendem instituir, milhares e milhares de horas de trabalho gratuito roubadas às suas famílias, ao seu descanso, ao seu lazer, pelo simples motivo de se orgulharem de ensinar e não permitirem que os mesmos políticos, pedagogos e supostos especialistas em educação instalados no Ministério há anos, destruam a essência da sua profissão.

Caro Professor Nuno Crato, é por isto que os seus colegas de profissão estão em greve e não entender isto é não entender nada sobre educação. Por isso, não se admire se um destes dias forem eles a fazer aquilo que o professor tanto prometeu, mas não teve coragem de cumprir: implodir o Ministério da Educação em defesa da educação em Portugal.
João A. Moreira, em 14.06.13

quarta-feira, 19 de junho de 2013

O mais maravilhoso


O mais maravilhoso não é  que Jesus Cristo seja  Deus, mas que Deus seja Jesus Cristo.

Yves Congar

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O Papa Francisco, um novo João XXIII


 
1. Quando naquele dia 28 de Outubro de 1958 Angelo Giuseppe Roncalli foi eleito papa, escolhendo o nome de João XXIII, pensou-se que, atendendo à idade, seria um papa de transição. Rapidamente, porém, os mais atentos se aperceberam de que ele chegara para renovar a Igreja. Concretamente, convocando o Concílio Vaticano II, um dos acontecimentos decisivos na história do século XX - houve quem o considerasse até o acontecimento mais importante do século -, operou uma verdadeira revolução na Igreja Católica, com consequências fundamentais para o mundo inteiro.

Era um homem bom, generoso, simples, cristão. Próximo das pessoas - na noite da abertura do Concílio Vaticano II, em 11 de Outubro de 1962, observou que até à Lua o acontecimento não passara indiferente e saudou a todos, solicitando que fôssemos bons uns para com os outros e pedindo aos pais que levassem um beijo do papa para os filhos -, era ao mesmo tempo um conhecedor do mundo: a carreira diplomática levou-o, em tempos conturbados, à Bulgária, Grécia, Turquia e França.

Na inauguração do Concílio, tinha dito que "devemos discordar dos profetas de desgraças, que anunciam acontecimentos sempre infaustos, como se estivesse iminente o fim do mundo". A Igreja, que quer servir a humanidade com a luz de Cristo e aprender a discernir "os sinais dos tempos", "prefere nos nossos dias usar mais o remédio da misericórdia do que o da severidade: julga satisfazer melhor às necessidades de hoje mostrando a validez da sua doutrina do que condenando erros".

Seis meses depois dessa abertura e quando já se encontrava gravemente doente, publicou, com a data de 11 de Abril de 1963, a encíclica Pacem in Terris, considerada por alguns como a mais importante da história, com imenso eco na opinião pública mundial. Nela, proclama-se a exigência da paz, fundamentada no reconhecimento da dignidade inviolável e dos direitos inalienáveis de todos os seres humanos.

Pelo seu sorriso, bondade, humildade, simpatia, capacidade de renovação a favor da liberdade, verdade e dignidade, ficou conhecido como o "Papa bom". Morreu no dia 3 de Junho de 1963 - neste ano de 2013 celebra-se o cinquentenário da sua morte e da publicação da Pacem in Terris - e foi chorado por todos, crentes e não crentes, políticos e intelectuais de várias ideologias e gente do povo.

2. Quando no passado dia 13 de Março o Papa Francisco apareceu à multidão, simples, quase tímido, inclinando-se e pedindo a bênção e a oração dos fiéis, muitos pensaram que podia vir aí um novo João XXIII. E não têm faltado sinais a confirmar a intuição. Ficou na Casa de Santa Marta, evitando os apartamentos pontifícios; não se esquece dos pobres; anuncia sem cessar o amor, a misericórdia e o perdão de Deus; quer a transparência na Igreja; critica o carreirismo eclesiástico; beija as crianças e os deficientes; recebe sem pompa e senta-se no meio do povo, depois de celebrar a Missa; lavou os pés a mulheres, incluindo uma muçulmana... Pela simplicidade, cordialidade, serviço, Francisco conquistou a simpatia de todos, crentes e não crentes. O Evangelho avança como notícia boa e felicitante.

Mas a Igreja, uma estrutura complexa, também precisa, e urgentemente, de reformas. E Francisco está na disposição de implementá-las, apesar das dificuldades. Os media fizeram-se eco da notícia em todo o mundo. "Reflexión y Liberación", esclareceu entretanto que as declarações atribuídas ao Papa podem não ser completamente textuais, mas exprimem "o seu sentido geral". Numa conversa cordial com a Confederação Latino-americana e Caribenha de Religiosas e Religiosos (CLAR), Francisco disse o que já se sabia, mas agora é dito por ele: "Na Cúria há gente santa, mas também uma corrente de corrupção. Fala-se do lóbi gay, e é verdade: está aí." E advertiu contra certos grupos restauracionistas. "A reforma da Cúria romana é algo que quase todos os cardeais pedimos, nas congregações que precederam o conclave. Eu também a pedi. A reforma não posso fazê-la eu." Mas confia na comissão de oito cardeais de todo o mundo, nomeada por ele: "Vão levá-la por diante."
por ANSELMO BORGES, aqui

domingo, 16 de junho de 2013

As duas moedas

Quero contar-vos uma velha
lenda árabe. Certo dia, à porta da cidade, um vendedor árabe encontrou-se com
um mendigo cheio de fome. Compadeceu-se dele e deu-lhe duas moedas de cobre.

Algum tempo depois, os dois
homens voltaram a encontrar-se nos arredores do mercado. O vendedor
perguntou-lhe:

- Que fizeste com as moedas de
cobre que te dei?

O mendigo respondeu:

- Com uma delas comprei pão,
para ter com que viver. Com a outra, comprei uma linda flor, para ter porquê
viver.

Esta velha lenda árabe
pretende comunicar uma mensagem muito importante. Para viver necessitamos do
pão que nos alimenta o corpo, mas também daquilo que a flor simboliza, o
alimento para o espírito.

Neste novo ano que está a
começar, desejamos que não falte o pão de cada dia nas nossas mesas. Mas também
desejamos que não falte a alegria, a beleza e a ternura simbolizadas na flor.

Nem só de pão vive o homem.
Necessita também de outras coisas que não se encontram nos supermercados: a
esperança, a coragem, o amor, a solidariedade, o perdão, o carinho.

As flores que no dia do Ano
Novo colocamos sobre a mesa estão a recordar-nos que não basta existir. É
necessário viver segundo os valores tão belos de Jesus de Nazaré.



Pedrosa Ferreira

sábado, 15 de junho de 2013

Tema do 11º Domingo do Tempo Comum - Ano C

 
A liturgia deste domingo apresenta-nos um Deus de bondade e de misericórdia, que detesta o pecado, mas ama o pecador; por isso, Ele multiplica “a fundo perdido” a oferta da salvação. Da descoberta de um Deus assim, brota o amor e a vontade de vivermos uma vida nova, integrados na sua família.
A primeira leitura apresenta-nos, através da história do pecador David, um Deus que não pactua com o pecado; mas que também não abandona esse pecador que reconhece a sua falta e aceita o dom da misericórdia.
Na segunda leitura, Paulo garante-nos que a salvação é um dom gratuito que Deus oferece, não uma conquista humana. Para ter acesso a esse dom, não é fundamental cumprir ritos e viver na observância escrupulosa das leis; mas é preciso aderir a Jesus e identificar-se com o Cristo do amor e da entrega: é isso que conduz à vida plena.
O Evangelho coloca diante dos nossos olhos a figura de uma “mulher da cidade que era pecadora” e que vem chorar aos pés de Jesus. Lucas dá a entender que o amor da mulher resulta de haver experimentado a misericórdia de Deus. O dom gratuito do perdão gera amor e vida nova. Deus sabe isso; é por isso que age assim.

Padres Dehonianos

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Imagens do Sagrado Coração de Jesus: a maior falta de bom gosto dentro da Igreja (não esquecendo outras!). Olhem esta, por exemplo, com olhos de cabra morta... e mãosinhas de

Multiplicação da fealdade pelo Sagrado Coração de Jesus, segundo Bento Domingues
Excerto da crónica de Bento Domingues no "Público":


Em Lisboa, existe uma igreja paroquial dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, obra dos arquitectos Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas, que recebeu o Prémio Valmor em 1975 e é monumento nacional, desde 2010. Apesar de todas as diligências, o Sagrado Coração de Jesus não conseguiu, na altura, encontrar nenhum grande artista que o quisesse pintar ou esculpir. Fui ao Google verificar se teria havido algum esquecimento. Entre as mais de 400 imagens visitadas não encontrei uma que lá pudesse figurar, sem atentar contra a qualidade daquela arquitectura. Aliás, a reprodução de tais imagens é sempre a multiplicação da fealdade.


quinta-feira, 13 de junho de 2013

Electrificação do Cais do Mourato vai avançar

Autarquia já tem fundos comunitários disponíveis

Electrificação do Cais do Mourato vai avançar

O projecto de electrificação do Cais do Mourato está em condições de avançar. A garantia foi dada pelo secretário regional do Turismo e Transportes  no Sábado aos moradores do lugar do  Cais do Mourato, na freguesia das Bandeiras.Vítor Fraga afirmou que “a Câmara Municipal da Madalena já tem disponíveis os fundos comunitários para poder candidatar o projecto”. O secretário adiantou ainda que o projecto de electrificação necessitou de uma alteração, uma vez que depois dos galgamentos do mar houve a necessidade de passar alguma da instalação subterrânea para aérea.Vítor Fraga assumiu ainda o compromisso de efectuar a manutenção da actual rede, em conjunto com a autarquia, até que a electrificação do Cais do Mourato esteja concluída.
Emanuel Pereira/Rádio Pico 

terça-feira, 11 de junho de 2013

"A oração faz milagres"

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O Papa Francisco afirmou há dias no Vaticano que é preciso lutar contra a "incredulidade" e rezar de forma "corajosa" para que os milagres aconteçam.


"Mas porque há esta incredulidade? Penso que é porque o coração não se abre, um coração fechado que quer ter tudo sob controlo", disse, na homilia da missa a que presidiu na capela da Casa de Santa Marta.
Esta incredulidade que "todos" têm dentro de si, acrescentou o Papa, requer uma "oração humilde e forte", como pedia Jesus.
"A oração para pedir um milagre, para pedir uma acção extraordinária, tem de ser uma oração comprometida, que envolva todos", acrescentou.
Francisco recordou, neste contexto, um episódio que aconteceu na Argentina, sua terra natal, quando o pai de uma menina de 7 anos foi rezar ao Santuário de Lujan, dedicado à Virgem Maria, numa viagem de 70 quilómetros.
"Chegou depois das nove da noite, estava tudo fechado, e ele começou a rezar a Nossa Senhora, com as mãos na cancela de ferro. Rezava, rezava, chorava e rezava, e assim ficou toda a noite. Este homem lutava", relatou.
Ao regressar ao hospital, na manhã seguinte, a filha estava sem febre e a respirar normalmente, sem que os médicos soubessem explicar o que se tinha passado.
"Isto ainda acontece, não é? Há milagres", realçou o Papa.
Segundo Francisco, "a oração faz milagres" mas é preciso "acreditar", de forma "corajosa", lembrando também as pessoas que sofrem "nas guerras, os refugiados, todos os dramas que existem".
Fonte: aqui

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Anselmo Borges: "O diabo, possessões demoníacas e exorcismos"


Texto de Anselmo Borges no DN:

O Papa Francisco terá alegadamente realizado um exorcismo num mexicano. O porta-voz do Vaticano apressou-se a desmentir. Mas o célebre exorcista Gabriele Amorth, a caminho dos 90 anos e que diz já ter feito mais de 70 mil exorcismos, não duvida de que "o Papa fez mesmo um exorcismo". Por mim, confesso que estou plenamente convencido de que Francisco não o fez: apenas tentou ajudar aquela pessoa doente, impondo-lhe as mãos e rezando.

Diabo é, etimologicamente, o contrário de símbolo: enquanto diabállo, em grego, significa desunir, enganar, symboléo quer dizer encontrar-se com, reunir. O simbólico une; o diabólico desune.

O diabo é uma figura com muitos nomes, embora o seu sentido não seja exactamente idêntico: satã, demónio, satanás, belzebu, lúcifer, mafarrico, maligno... Aqui, serão usados indistintamente.

Seja como for, o decisivo é que o diabo aparece no contexto do sofrimento, da maldade, enfim, do mal. Como se explica tanto mal e sofrimento no mundo? Uma vez que Deus não pode ser a causa do mal, pois é infinitamente bom, supõe-se que o diabo poderia ser uma boa explicação. Ele tentou e tenta o ser humano, que cai na tentação e provoca o mal. Mas já o filósofo Kant colocou na boca de um catequizando iroquês esta pergunta: Por que é que Deus não acabou com o diabo? E sobretudo: quem é que tentou os anjos, para que, de bons, se transformassem em anjos caídos e maus, demónios?

Para explicar o mal, contrapor o diabo a Deus, como se fosse uma espécie de anti-Deus, no quadro de um dualismo maniqueu, não passa de uma explicação aparente e, sobretudo, é uma contradição.

Se é certo que Jesus, nos Evangelhos, aparece expulsando demónios, isso deve ser compreendido no contexto das crenças da altura. Hoje, sabemos que se tratava de doenças do foro psiquiátrico ou de pessoas com ataques epilépticos ou sofrendo de histeria. De qualquer forma, Jesus anunciou Deus e não satanás, e, felizmente, o diabo não faz parte do Credo cristão. O núcleo da mensagem de Jesus foi o Reino de Deus, e o Reino de Deus consiste na salvação total e plena do ser humano. Neste contexto, o diabo pode aparecer apenas como um símbolo personificado de todo o mal que ainda aflige o homem, mas a que Deus há-de pôr termo, segundo a promessa de Jesus. O diabo é a expressão personificada do que não é o Reino de Deus. Precisamente para realçar mais e melhor o que constitui o centro da mensagem de Jesus enquanto notícia boa e felicitante: o futuro do Reino de Deus.

O diabo não pode, pois, ser apresentado como uma espécie de concorrente de Deus. E não tem sentido continuar a pensar e a pregar que ele se mete nas pessoas, para tomar conta delas através das possessões diabólicas. Não há possessos demoníacos. Apenas há doenças e doentes de muitas espécies e com múltiplas origens e com imenso sofrimento, a que é preciso pôr fim, na medida do possível e, pelo menos, aliviar. Os rituais de exorcismos não têm justificação.

Se Jesus não pregou satanás, mas Deus, então a fé do cristão dirige-se a Deus e não ao diabo, o que inclui na prática a urgência de expulsar da vida pessoal e pública tudo o que é demoníaco e diabólico.

Já em 1969, Herbert Haag, um dos maiores exegetas do século XX, que conheci bem, se despedia da crença na existência pessoal do diabo, na obra Abschied vom Teufel (Adeus ao diabo). H. Bietenhard também escreveu: "A pregação cristã não deve especular sobre a origem e a essência ou o ser de Satanás - a Bíblia também não o faz: as pregações sobre o diabo e sobre o inferno, quando não fomentam a necessidade de emoções de pessoas pseudopiedosas e a excitação dos seus nervos, só servem para difundir a insegurança, a angústia e o medo. Essas pregações, em vez de libertar, colocam fardos aos ombros das pessoas".

Como diz o teólogo José M. Castillo, a Igreja, em vez da preocupação com o número de exorcistas para os demónios inexistentes, deve preocupar-se com os outros demónios, os que na realidade existem, que andam por aí à solta e são responsáveis por imensos sofrimentos de milhões de pessoas.
Tribo de Jacob

sábado, 8 de junho de 2013

Tema do 10º Domingo do Tempo Comum - Ano C


A dimensão profética percorre a liturgia da Palavra deste domingo, em Elias, o profeta da esperança e da vida, em Paulo, o profeta do Evangelho recebido de Deus, e, particularmente, em Jesus, o grande profeta que visita o seu povo em atitude de total oblação.
A primeira leitura apresenta-nos a figura da mulher de Sarepta, que significa a perda da esperança e o sentimento de derrota e de procura de um culpado, e a figura do profeta Elias, que acredita no Deus da vida, que não abandona o homem ao poder da morte, ressuscitando o filho da viúva.
No Evangelho, temos a revelação de Deus expressa na atitude de piedade e compaixão de Jesus no milagre da ressurreição do filho da viúva. Deus visita o seu povo em Jesus, “um grande profeta”, realizando o reino pela ressurreição, oferecendo a sua vida e dando-lhe pleno sentido.
Na segunda leitura, acolhemos a absoluta gratuidade da conversão de Paulo, para quem o Evangelho é uma força vital e criadora, que produz o que anuncia; a sua força é Deus. É uma força vital, uma dinâmica profética que ele recebeu diretamente de Deus.

LEITURA I – 1 Reis 17, 17-24
Leitura do Primeiro Livro dos Reis
Naqueles dias,
caiu doente o filho da viúva de Sarepta
e a enfermidade foi tão grave que ele morreu.
Então a mãe disse a Elias:
«Que tens tu a ver comigo, homem de Deus?
Vieste a minha casa lembrar-me os meus pecados
e causar a morte do meu filho?»
Elias respondeu-lhe:
«Dá-me o teu filho».
Tomando-o dos braços da mãe,
levou-o ao quarto de cima, onde dormia,
e deitou-o no seu próprio leito.
Depois, invocou o Senhor, dizendo:
«Senhor, meu Deus,
quereis ser também rigoroso para com esta viúva,
que me hospeda em sua casa,
a ponto de fazerdes morrer o seu filho?»
Elias estendeu-se três vezes sobre o menino
e clamou de novo ao Senhor:
«Senhor, meu Deus,
fazei que a alma deste menino volte a entrar nele».
O senhor escutou a voz de Elias:
a alma do menino voltou a entrar nele
e o menino recuperou a vida.
Elias tomou o menino,
desceu do quarto para dentro da casa
e entregou-o à mãe, dizendo:
«Aqui tens o teu filho vivo».
Então a mulher exclamou:
«Agora vejo que és um homem de Deus
e que se encontra verdadeiramente nos teus lábios
a palavra do Senhor».
Breve comentário à primeira leitura.
O episódio de hoje, a ressurreição do filho da viúva de Sarepta, é um dos milagres atribuídos a Elias e enquadra-se na polémica contra a religião cananeia do deus Baal. Este era considerado o senhor e o esposo da terra e simbolizava a fertilidade dos campos, dos animais, das famílias. Enfim, era o deus da fecundidade e da vida. Portanto, em Canaã, celebrava-se todos os anos a festa da morte e da ressurreição da natureza na figura de Baal.
O milagre de Elias, como outros a eles atribuídos, significa fundamentalmente que Yahveh é a única fonte da vida e da fertilidade. A vida vem de Deus. Toda a vida e ação de Elias apontam nesse sentido; o próprio nome Elias significa “Yahveh é o meu Deus”. Portanto, todos os elementos da mensagem devem ser vistos à luz desta centralidade. Todo o relato, que pode denotar referências mágicas na relação entre pecado e doença, baseia-se na oração de Elias, que deixa clara a sua fé num Deus pessoal, senhor e fonte de vida.
A viúva de Sarepta, uma mulher estrangeira, confessa a fé em Elias como “homem de Deus”, “porta-voz de Deus”: “Agora vejo que és um homem de Deus e que se encontra verdadeiramente nos teus lábios a palavra do Senhor”. Naamã confessará uma fé semelhante, depois de ser curado e se ter lavado no Jordão por indicação de Eliseu (cf. 2 Re 5,15). Jesus fará referência à viúva de Sarepta e ao sírio Naamã como representante dos gentios que entram n Igreja, após receber o Evangelho (cf. Lc 4,25-27).
A figura da mulher significa a perda da esperança e o sentimento de derrota e de procurar um culpado. O profeta Elias é a figura que acredita no Deus da vida, que não abandona o homem ao poder da morte.
Como pensamos e agimos hoje, nós que somos cristãos? Não ficamos muitas vezes no paganismo, na falta de esperança, no derrotismo das desgraças que nos atingem? Quando é que, verdadeiramente, agimos como se Deus fosse verdadeiramente o único Deus da vida e da bondade? Quanto caminho a fazer para sermos profetas à maneira de Elias…

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 29 (30)
Refrão 1: Eu Vos louvarei, Senhor, porque me salvastes.
Eu Vos glorifico, Senhor, porque me salvastes
e não deixastes que de mim se regozijassem os inimigos.
Tirastes a minha alma da mansão dos mortos,
vivificastes-me para não descer ao túmulo.
Cantai salmos ao Senhor, vós os seus fiéis,
e dai graças ao seu nome santo.
A sua ira dura apenas um momento
e a sua benevolência a vida inteira.
Ao cair da noite vêm as lágrimas
e ao amanhecer volta a alegria.
Ouvi, Senhor, e tende compaixão de mim,
Senhor, sede vós o meu auxílio.
Vós convertestes em júbilo o meu pranto:
Senhor meu Deus, eu Vos louvarei eternamente.

LEITURA II – Gal 1, 11-19
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Gálatas
Quero que saibais, irmãos:
O Evangelho anunciado por mim
não é de inspiração humana,
porque não o recebi ou aprendi de nenhum homem,
mas por uma revelação de Jesus Cristo.
Certamente ouvistes falar do meu proceder outrora no judaísmo
e como perseguia terrivelmente a Igreja de Deus
e procurava destruí-la.
Fazia mais progressos no judaísmo
do que muitos dos meus compatriotas da mesma idade,
por ser extremamente zeloso das tradições dos meus pais.
Mas quando Aquele que me destinou desde o seio materno
e me chamou pela sua graça,
Se dignou revelar em mim o seu Filho
para que eu O anunciasse aos gentios,
decididamente não consultei a carne e o sangue,
nem subi a Jerusalém
para ir ter com os que foram Apóstolos antes de mim;
mas retirei-me para a Arábia
e depois voltei novamente a Damasco.
Três anos mais tarde,
subi a Jerusalém para ir conhecer Pedro
e fiquei junto dele quinze dias.
Não vi mais nenhum dos Apóstolos,
a não ser Tiago, irmão do Senhor.
Breve comentário à segunda leitura.
O texto de hoje enquadra-se na acentuação muito forte da absoluta gratuidade da conversão de Paulo. A essa luz Paulo prega um Evangelho que não é de origem humana. Poder-se-ia pensar que este Evangelho tem um conteúdo da catequese sobre os factos e os ditos de Jesus. Ora, Paulo, quando perseguia ferozmente os cristãos, conhecia bem o conteúdo da sua doutrina. Para Paulo, o Evangelho é uma força vital e criadora, que produz o que anuncia; a sua força é Deus. É uma força vital, uma dinâmica profética que Paulo recebeu diretamente de Deus.
Para Paulo, a sua conversão é obra exclusiva de Deus. Temos aqui um equilíbrio dinâmico entre a gratuidade da fé e a adesão à tradição e magistério eclesiástico.
Somos convidados a estarmos sempre abertos à revelação de Deus, à autêntica conversão, ao acolhimento do Evangelho vivo de Deus.

ALELUIA – Lc 7,16
Aleluia. Aleluia.
Apareceu no meio de nós um grande profeta:
Deus visitou o seu povo.

EVANGELHO – Lc 7,11-17
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
dirigia-Se Jesus para uma cidade chamada Naim;
iam com Ele os seus discípulos e uma grande multidão.
Quando chegou à porta da cidade,
levavam um defunto a sepultar,
filho único de sua mãe, que era viúva.
Vinha com ela muita gente da cidade.
Ao vê-la, o Senhor compadeceu-Se dela e disse-lhe:
«Não chores».
Jesus aproximou-Se e tocou no caixão;
e os que o transportavam pararam.
Disse Jesus:
«Jovem, Eu te ordeno: levanta-te».
O morto sentou-se e começou a falar;
e Jesus entregou-o à sua mãe.
Todos se encheram de temor
e davam glória a Deus, dizendo:
«Apareceu no meio de nós um grande profeta;
Deus visitou o seu povo».
E a fama deste acontecimento
espalhou-se por toda a Judeia e pelas regiões vizinhas.
Breve comentário ao Evangelho.
Temos aqui o episódio da ressurreição do filho de uma viúva, em paralelismo com o da primeira leitura. O milagre relatado neste texto, assim como o dos versículos anteriores, respondem à pergunta de João de Baptista a Jesus: “és Tu que hás de vir ou devemos esperar outro?” Jesus oferece a salvação (cf. Lc 7,1-10) e mostra o verdadeiro triunfo da vida (cf. Lc 7,11-17). Não é o relato em si que é o mais importante, mas o sentido que nos transmite.
Antes de mais, temos aqui uma revelação de Deus. Diante da atitude de piedade e compaixão de Jesus, neste milagre de ressurreição, vemos a exclamação do povo: “Deus visitou o seu povo”. Jesus é “um grande profeta”, não apenas porque transmite a Palavra de Deus e anuncia o reino com palavras, mas sobretudo porque veio realizar o reino pela ressurreição, oferecendo a sua vida.
Em seguida, vemos aqui o sentido da vida. Jesus veio criar, oferecer ao homem a alegria de uma vida aberta com todo o sentido.
Percebemos ainda todo o carácter de sinal presente no milagre. A ressurreição do filho da viúva testemunha Jesus que há de vir, cuja vida triunfa plenamente sobre a morte.
Significa que para nós, hoje como então, Deus Se encontra onde há o sentido da piedade, do amor vivificante. Significa ainda que, seguindo Jesus, só podemos também suscitar vida, ter piedade dos que sofrem, oferecer a nossa ajuda, ter uma atitude de oblação.
Das duas, uma: ou fazemos da nossa vida um cortejo de morte, dos sem esperança, que acompanham o cadáver, em atitude de choro, de luto, de desespero; ou fazemos do nosso peregrinar um caminho de esperança, de ressurreição, de transformação do choro e da morte em sentido de vida. Podemos escolher, é certo. Mas se somos seguidores de Cristo e nos deixamos visitar por este grande profeta, não temos alternativa!

SER PROFETA HOJE (algumas interpelações)
A partir da liturgia de hoje, podemos percorrer algumas interpelações sobre o sentido da profecia para os tempos atuais. Como ser profeta hoje? Como ser profeta à luz da Palavra de Deus que ilumina os acontecimentos das nossas vidas, da Igreja e do mundo? Algumas interpelações:
1. Descobrir e propor o projeto de Deus para o mundo e para os homens. O profeta é homem do seu tempo, marcado pelas descobertas, conquistas, contradições e esperanças dos homens do seu tempo… É também alguém com uma fé profunda, com uma consciência muito forte da presença de Deus na própria vida. A vida de união e de comunhão com Deus vai impregnando a vida do profeta, de modo que vai aprendendo a interpretar todos os acontecimentos políticos, sociais e religiosos à luz de Deus e do seu projeto. Só deste modo ele pode apresentar o projeto de Deus para os homens hoje.
2. Sentir-se chamado por Deus, receber de Deus uma missão, ser enviado por Deus ao mundo. Deus chama de muitas formas… Um sonho, uma leitura, um acontecimento, um sinal… Às vezes descobre-se o seu apelo no rosto de um pobre ou de um escravizado; outras vezes, nas páginas dos jornais; outras, nas necessidades da Igreja ou da sociedade; outras, nos acontecimentos turbulentos do presente; outras, mais simplesmente, nas palavras de um amigo ou de um mestre… Ao ser chamado, o profeta recebe de Deus uma missão.
3. Estar marcado pelas experiências de solidão, angústia, sofrimento, crise, rejeição, incompreensão… Ser fiel à missão de Deus, mesmo quando, com essa atitude, o profeta se sente abandonado, rejeitado, incompreendido. No fundo, trata-se de arriscar a vida, na certeza da presença de Deus.
4. Estar desinstalado, num território concreto… como espaço de verificação e de rejeição da profecia anunciada. Ninguém é profeta na sua terra, é certo. Mas é na terra, no espaço concreto, na escola, no local de trabalho, na comunidade, na Igreja… que a profecia deve ser anunciada. Com coragem, com desassombro.
5. Viver no quotidiano da existência, na minha situação concreta, aqui e agora. Como ser profeta, aqui e agora, na minha situação, face aos problemas reais que me entram pelos olhos e interpelam o meu coração aberto ao Pai e ao próximo?
6. Anunciar as Boas Novas de sempre duma forma sempre nova. O conteúdo do anúncio profético é sempre o mesmo. Mas esta única Palavra de Deus deve ressoar duma forma sempre nova…
7. Assumir um modo novo e inédito de viver e anunciar o essencial. Anunciar um modo novo de viver o essencial. E o essencial é a fé, a esperança e a plenitude do amor, das quais os profetas foram testemunhas vulneráveis mas obstinados. O Espírito sopra onde quer e como quer, com liberdade imprevisível, não se deixando amarrar em esquemas exclusivos ou demasiado estreitos…
8. Escutar, aprender, receber, acolher… o Deus do povo e o povo de Deus.
9. Ser coerente entre a palavra anunciada e as opções pessoais. Quantos pretensos profetas gritam diante dos microfones, ditam sentenças nos jornais a torto e a direito, gesticulam nas praças e na televisão… mas não dão testemunho com a sua vida. Por isso, não mudam as coisas! Há incoerência entre pensamento e vida, entre ideal e prática.
10. Denunciar não apenas os pecados, mas as estruturas de pecado, promover e estimular novas estruturas de virtudes e valores.
11. Testemunhar entre o silêncio intenso-pleno e o silêncio despojado-vazio. Diante dos dramas recentes e atuais, diante das angústias e sofrimentos, diante dos vazios e da falta de esperança, o profeta dá testemunho, com o seu silêncio, do silêncio de Deus. Não é fácil, mas pode ser um silêncio fecundo que fala.
12. Lutar contra os novos ídolos de hoje: detetá-los, desmascará-los, denunciá-los…
13. Anunciar a fé e a justiça, assumir a esperança como raiz da profecia. Não se trata de duas coisas distintas: a fidelidade ao Deus vivo exige a defesa dos direitos do pobre. A mensagem profética, na sua capacidade de denúncia, integra-se e aperfeiçoa-se, especificando-se, na proposta de uma utopia, na “proposta de uma alternativa”, chamada esperança. Sem esperança não há profecia.
14. Profetizar no século XXI, viver pobre a profecia da gratuidade, da sobriedade, da essencialidade: sentir a alegria de dar, gratuitamente; experimentar a força do Amor criador de Deus; praticar diariamente uma vida simples, sóbria; ir profeticamente contra a corrente do domínio e do consumo; ser capaz de desmascarar as raízes do egoísmo e as suas consequências…
15. Profetizar no século XXI, viver obediente a profecia da multiculturalidade: descobrir a única vontade de Deus Pai; deixar os isolamentos, os nossos planos egoístas; procurar a vontade de Deus na vontade da comunidade; deixar de lado o escândalo da excomunhão mútua; comungar no mesmo Deus…
16. Profetizar no século XXI, viver casto a profecia da sexualidade redimida: testemunhar a redenção de Cristo na globalidade do nosso ser (inteligência, liberdade, fantasia, corpo, afetos, sentidos); ser profetas da libertação integral…

Padres Dehonianos

sexta-feira, 7 de junho de 2013

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Amor e audácia


Lido num livro de Carlos González Vallés:

Karl Rahner disse pouco antes de morrer que lamentava duas coisas em sua vida: não ter amado mais as pessoas e não ter tido mais audácia com as hierarquias da Igreja.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

ELES QUEREM MAMA À CUSTA DA IGREJA!

De Corpus Christi (clique para aumentar, no desenho)


No jornal "Público". Uma ideia que também me tinha ocorrido, mas com mais piada nos desenhos de Luís Afonso.

terça-feira, 4 de junho de 2013

CARAMBA. QUE COISA LINDA. SE SABIA DISTO TINHA COPIADO PARA O 6º ANO DA CATEQUESE. FICA PARA O ANO!

Foto da semana.

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Sábado, 25 de maio de 2013: A beleza na normalidade da vida paroquial católica. Garota faz a sua “profissão da fé” na igreja de São Clemente, em Nantes, França, onde a Fraternidade Sacerdotal São Pedro desenvolve um apostolado. A cerimônia de profissão da fé é muito comum na França e consiste em uma comunhão solene por parte de crianças que se preparam através do estudo do catecismo e de um retiro espiritual.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Se Deus castigasse estes demónios!...

Operação decorreu  na Madalena em Maio

PSP desmantela estufa de cultivo de droga no Pico
A PSP desmantelou esta semana, na Madalena do Pico, uma estufa de cultivo de droga e deteve um indivíduo de 42 anos pela prática do crime de cultivo e tráfico de estupefacientes.Segundo nota de imprensa, a estufa estava  equipada com sistema de climatização, ventilação, iluminação artificial e zona de secagem.No âmbito da mesma operação, a PSP apreendeu ainda 15 plantas de Cannabis Sativa-L, mais de mil euros em dinheiro, uma balança de precisão, um computador portátil e um telemóvel.
Emanuel Pereira/Rádio Pico

domingo, 2 de junho de 2013

Li e recomendo


 É uma boa introdução à teologia. Informação da editora Paulus:

Num estilo de livro-entrevista com o escritor Marco Roncalli, Bruno Forte põe em relação fé e história, teologia e filosofia, reflexão e ação pastoral, religião e estética, educação e vida quotidiana. Um livro que apresenta a busca de Deus no nosso tempo, a crise da pós-modernidade, o confronto entre identidade e diálogo, a religião, a globalização, o futuro do Cristianismo. Temas que fazem parte da vida de crentes e não crentes.

sábado, 1 de junho de 2013

Tema da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo - Ano C

 

No centro da Solenidade deste domingo está quer a celebração de Deus que alimenta o seu povo e que, no seu Filho, dá-lhe o alimento supremo e eterno, quer a grande Eucaristia dos crentes.
Para exprimir esta oração de louvor e de agradecimento, que dirigimos ao Senhor acolhendo o dom do seu amor, a Escritura emprega duas palavras: a bênção (primeira leitura) e a ação de graças (segunda leitura).
Estas duas dimensões de oração estão intimamente ligadas e devem habitar a nossa vida para além da missa, para testemunhar todo o amor com o qual Cristo ama os homens (Evangelho).
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo é a festa da Pessoa de Cristo. Ao levantarmos os olhos para o Pão e o Vinho consagrados, só podemos dizer: «É mesmo Ele! Meu Senhor e meu Deus!»
LEITURA I – Gen 14, 18-20
Leitura do Livro do Génesis
Naqueles dias,
Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho.
Era sacerdote do Deus Altíssimo
e abençoou Abraão, dizendo:
«Abençoado seja Abraão pelo Deus Altíssimo,
criador do céu e da terra.
Bendito seja o Deus Altíssimo,
que entregou nas tuas mãos os teus inimigos».
E Abraão deu-lhe a dízima de tudo.
Breve comentário à primeira leitura.
Na história do povo de Deus, o rei Melquisedec só intervém uma vez, no seu encontro com Abraão. Mas este episódio teve uma importância decisiva para a ação de Jesus.
O Antigo testamento está cheio de sacrifícios sangrentos. Mas eis aqui um sacrifício sem qualquer efusão de sangue. Melquisedec, um rei sacerdote, oferece diante de Abraão pão e vinho. Os cristãos reconheceram nesse gesto um anúncio da Eucaristia e muitas vezes representaram este sacrifício nas pinturas e vitrais das igrejas, na proximidade do altar. Reconhecemos também neste episódio antigo um traço da pedagogia divina, que provocou continuamente o seu Povo a purificar as suas práticas sacrificiais, para prepará-lo para acolher a ação definitiva do seu Filho.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 109 (110)
Refrão 1:   O Senhor é sacerdote para sempre.
Refrão 2:   Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec.
Disse o Senhor ao meu Senhor:
«Senta-te à minha direita,
até que Eu faça de teus inimigos escabelo de teus pés».
O Senhor estenderá de Sião
o cetro do teu poder
e tu dominarás no meio dos teus inimigos.
A ti pertence a realeza desde o dia em que nasceste
nos esplendores da santidade,
antes da aurora, como orvalho, Eu te gerei».
O Senhor jurou e não Se arrependerá:
«Tu és sacerdote para sempre,
segundo a ordem de Melquisedec».
LEITURA II – 1 Cor 11, 23-26
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti:
o Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue,
tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse:
«Isto é o meu Corpo, entregue por vós.
Fazei isto em memória de Mim».
Do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice e disse:
«Este cálice á a nova aliança no meu Sangue.
Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim».
Na verdade, todas as vezes que comerdes deste pão
e beberdes deste cálice,
anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha».
Breve comentário à segunda leitura.
As dificuldades surgidas na primeira comunidade de Corinto tinham incitado o apóstolo Paulo a recordar por escrito o que comporta a celebração do grande mistério da fé, a Eucaristia.
Nesta narração da instituição da Eucaristia, Paulo põe na boca de Jesus uma dupla «ordem de reiteração». Depois da fração do pão, e mesmo antes de lhes dar o cálice, Jesus diz aos Apóstolos: «Fazei isto em memória de Mim». Palavra explícita, fundadora da nossa prática eucarística. E Jesus explica todo o alcance deste memorial, tal como o canta a anamnese: proclamar o que Jesus fez por nós (dom da sua vida), celebrar a sua Ressurreição que nos salva, esperar a sua vinda na glória.
O que os Apóstolos nos dizem da Eucaristia está nestas breves linhas de uma carta de São Paulo. Que diferenças entre as primeiras celebrações e as nossas, atualmente. Paulo dá-nos indicações importantes: refere-se, em primeiro lugar, à tradição que ele mesmo recebeu, e esta tradição vem do próprio Senhor, que deu a ordem de «refazer isso em memória dele»; indica, em seguida, que esta celebração recebida da tradição está integrada numa refeição, como a fração do pão na última Ceia e as refeições do Ressuscitado com os seus discípulos, em Emaús e em Jerusalém. Esta refeição coloca-nos em situação de esperança, sempre na espera do regresso do nosso Mestre Jesus Cristo, nosso Deus e Senhor.
SEQUÊNCIA
Terra, exulta de alegria,
Louva o teu pastor e guia,
Com teus hinos, tua voz.
Quanto possas tanto ouses,
Em louvá-l’O não repouses:
Sempre excede o teu louvor.
Hoje a Igreja te convida:
O pão vivo que dá vida
Vem com ela celebrar.
Este pão – que o mundo creia –
Por Jesus na santa Ceia
Foi entregue aos que escolheu.
Eis o pão que os Anjos comem
Transformado em pão do homem;
Só os filhos o consomem:
Não será lançado aos cães.
Em sinais prefigurado,
Por Abraão imolado,
No cordeiro aos pais foi dado,
No deserto foi maná.
Bom pastor, pão da verdade,
Tende de nós piedade,
Conservai-nos na unidade,
Extingui nossa orfandade
E conduzi-nos ao Pai.
Aos mortais dando comida,
Dais também o pão da vida:
Que a família assim nutrida
Seja um dia reunida
Aos convivas lá do Céu.
ALELUIA – Jo 6,51
Aleluia. Aleluia.
Eu sou o pão vivo descido do Céu, diz o Senhor.
Quem comer deste pão viverá eternamente.
EVANGELHO – Lc 9, 11b-17
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
estava Jesus a falar à multidão sobre o reino de Deus
e a curar aqueles que necessitavam.
O dia começava a declinar.
Então os Doze aproximaram-se e disseram-Lhe:
«Manda embora a multidão
para ir procurar pousada e alimento
às aldeias e casais mais próximos,
pois aqui estamos num local deserto».
Disse-lhes Jesus:
«Dai-lhes vós de comer».
Mas eles responderam:
«Não temos senão cinco pães e dois peixes…
Só se formos nós mesmos
comprar comida para todo este povo».
Eram de facto uns cinco mil homens.
Disse Jesus aos discípulos:
«Mandai-os sentar por grupos de cinquenta».
Assim fizeram e todos se sentaram.
Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes,
ergueu os olhos ao Céu
e pronunciou sobre eles a bênção.
Depois partiu-os e deu-os aos discípulos,
para eles os distribuírem pela multidão.
Todos comeram e ficaram saciados;
e ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram.
Breve comentário ao Evangelho.
A refeição da fração do pão, que Jesus celebrou com os seus discípulos, é destinada ao conjunto do seu povo. O próprio Jesus significou isso alimentando a multidão que O seguia, como Deus o havia feito outrora no deserto.
Para viver, é preciso comer. E como Deus nos quer vivos, Ele próprio intervém. Como um Pai que cuida dos seus filhos, quando estes não encontram o alimento necessário. A tradição de Israel tinha guardado a memória de uma intervenção providencial, em que Deus tinha alimentado o seu povo no deserto, depois da saída do Egipto, com o maná e as codornizes (Ex 16); era um pão vindo do céu, portanto, de Deus.
Por seu lado, Jesus alimenta o povo que está quase a fracassar. Vários detalhes anunciam a Eucaristia: Jesus parte os pães e fá-los distribuir pelos seus discípulos, como na comunhão: o povo está organizado, os Apóstolos fazem o serviço, é a Igreja; no deserto, o maná era apenas suficiente, mas aqui, no banquete do Senhor, restam cestos cheios, porque o pão de Jesus é-nos oferecido generosamente, para que tenhamos a vida em abundância (Jo 10,10).
É impossível isolar a «ordem de reiteração» da Eucaristia propriamente dita de outras ordens que Jesus nos deu: muito próximo da Eucaristia, há o «exemplo» do lava-pés; há ainda o «mandamento do amor» e a necessidade primordial de amar o nosso próximo; e hoje, o apelo a darmos nós mesmos de comer àqueles que nada têm que comer. Significando já o Reino onde todos os bens superabundam, Jesus recorda que Ele quer associar desde já todos os batizados à sua construção, ao seu anúncio. E para isso, Ele santifica-nos com a sua própria vida.
Padres Dehonianos