Agenda Paroquial:

quinta-feira, 17 de abril de 2014

QUINTA–FEIRA DA CEIA DO SENHOR - Comentários do P.e João Resina (in a Palavra no Tempo II)


            A festa mais importante dos judeus era a Páscoa, que comemorava a passagem da escravidão no Egipto para a liberdade na Terra Prometida e a revelação de Deus no Sinai. Celebrava-se, não no Templo nem nas sinagogas, mas em cada casa, no contexto de uma ceia presidida pelo chefe de família. Os discípulos, que se consideram uma família, perguntam a Jesus onde é que Ele quer fazer a festa. (Mt 26, 17-19).
Jesus advinha que o Sinédrio resolveu prendê-lo e condená-lo à morte. Manda preparar a ceia em casa de um seu conhecido, na véspera ou na antevéspera, da data oficial. (A data oficial era a noite de sexta para sábado, mas certos grupos tinham o costume de a antecipar. A escolha de Jesus não parecia pois demasiado insólita). De resto, no pensamento de Jesus, esta ceia transcende a festa dos judeus. Será a Ceia da Nova Aliança, a Ceia da sua despedida, a Ceia da sua presença.
Os discípulos estavam habituados a sentar-se à mesa com Jesus. Conheciam o seu gesto de abençoar o pão e o vinho da refeição. (Será nesse gesto que os discípulos de Emaús o irão reconhecer). Mas, nessa tarde, Ele acrescentou um elemento novo.
“Antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. (…). Decorria a Ceia. Jesus, sabendo que o Pai tudo pusera nas suas mãos, que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-se da mesa, tirou o manto, (…) e começou a lavar os pés aos discípulos. (…). Depois de lhes ter lavado os pés e de ter posto o manto, voltou a sentar-se à mesa e disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Ora se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. (…) Uma vez que sabeis isto, felizes de vós, se o puserdes em prática» ”. (Jo 13, 1-17). O Antigo Testamento exigia que o homem se purificasse antes de se dirigir a Deus, S. Paulo vai recomendar ao cristão que se examine a si próprio antes de comungar (I Cor 11, 28). Neste gesto do lava-pés, o Senhor ensina-nos que a purificação começa com a disposição de “lavar os pés” aos irmãos.
Os judeus acreditavam que Deus tinha firmado com o seu povo uma Aliança, inaugurada com a vocação de Abraão e confirmada no Sinai. Aguardavam o Messias, que levaria a Aliança à perfeição. O Pai envia como Messias o seu próprio Filho, Jesus. Mas os judeus não o aceitam. E Ele inaugura a Nova Aliança, firmada no Sangue da cruz, aberta a todos os homens e nações. “Este cálice é a Nova Aliança no meu Sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de Mim”. (I Cor 11, 25. Cf. Mt 26, 26-29; Mc 14, 12-16; Lc 22, 7-13).
Muitas civilizações tinham oferecido a Deus sacrifícios. O sacrifício era um dom simbólico, a exprimir a nossa gratidão e obediência. A vinda de Cristo vem abolir esses sacrifícios. Ele próprio é o dom real e definitivo. O dom de Cristo (a Epístola aos Hebreus volta a chamar-lhe sacrifício, Heb 5, 1-10; 9, 11-26) é o seu amor até ao fim, até ao extremo da cruz.
A Eucaristia será mais do que um simples cear na presença de Jesus. É comunhão com Ele, no seu Corpo e Sangue, o Corpo que vai sofrer, o Sangue que vai ser derramado na cruz. Será, por isso, participação real na sua vida, na sua morte, na sua ressurreição. S. Paulo vai escrever: “Sempre que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha” (I Cor 11, 26).
Era a despedida: “Eu vos digo que não mais a comerei até que ela se realize no reino de Deus” (Lc 22, 16). Era a presença, connosco, para sempre. Só acessível à fé