Agenda Paroquial:

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Mensagem de Natal do Bispo de Angra

D. António Braga reflete nesta mensagem, entre outros aspetos, sobre os dinamismos concretos da Esperança Cristã como princípio transformador da realidade, e sinal do Reino de Deus já presente na História. Esperar não é cruzar os braços!

MENSAGEM DE NATAL 2012

É Natal. Um Natal difícil, mas muito necessário. Tanto mais necessário, quanto se vive um momento de grande incerteza em relação ao futuro. Urge reavivar a esperança. Mais do que nunca, é preciso redescobrir e viver o Natal com mais fé, fundamento da esperança. A fé cristã é esperança: «garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêem» (Heb 11, 1).

Estamos no Ano da Fé. Ora, ter fé é “crer sem ver”, isto é, “confiar” em Alguém, concretamente no Deus, revelado por Jesus Cristo, que veio ao mundo, para instaurar o Reino de Deus, que não é «um além imaginário, colocado num futuro que nunca mais chega» (Bento XVI, Spe Salvi=SS, 2007, nº 31). Com o Natal de Jesus, o Reino de Deus «já» está presente e actuante no meio de nós, embora «ainda não» completamente realizado. Por isso mesmo, fala-se de esperança e não de pleno cumprimento.

1. Como explica o Concílio Vaticano II, «a restauração prometida, que esperamos, já principiou em Cristo, foi impulsionada com a vinda do Espírito Santo e continua por meio d’Ele na Igreja… Já chegámos, portanto, ao fim dos tempos; a renovação do mundo está irrevogavelmente decretada e vai-se realizando em certo modo já neste mundo (…) até que apareçam os novos céus e a nova terra, em que habite a justiça» (Lumen Gentium, nº 48).

“Esperar” não é cruzar os braços. A etimologia latina do termo “esperar” (“adtendere”) nada tem a ver com resignação. Exprime “tensão para”. “Esperar” é empenhar-se, tender para a meta, com a esperança certa de a alcançar. A esperança não consiste apenas em palavras, mas implica um compromisso concreto, com vista ao futuro.

«Precisamos das esperanças – menores ou maiores – que, dia após dia, nos mantêm a caminho. Mas, sem a grande esperança, que deve superar todo o resto, aquelas não bastam. Esta grande esperança só pode ser Deus (…).
«Deus é o fundamento da esperança – não um deus qualquer, mas aquele Deus que possui um rosto humano e que nos amou até ao fim: cada indivíduo e a humanidade no seu conjunto (…). Somente o seu amor nos dá a possibilidade de perseverar com toda a sobriedade, dia após dia, sem perder o ardor da esperança, num mundo que, por sua natureza, é imperfeito» (Bento XVI, SS, nº 31). Como afirma o profeta, «os que esperam no Senhor renovam as suas forças (…). Ele dá força ao que anda exausto e vigor ao que anda enfraquecido» (Is 40, 29-31).

2. Toda a «crise» implica mudança. Este é o Natal da «mudança», para abrir caminho a uma sociedade mais justa e fraterna. Efectivamente, Jesus veio, para reunir numa só família a humanidade dispersa. Por isso mesmo, se quisermos «refazer» a Europa, torná-la mais unida e solidária, temos de regressar às suas raízes cristãs, fundamento de humanismo autêntico.

Afirmava o beato João Paulo II: para dar novo impulso à sua história, a Europa «deve reconhecer e recuperar, com fidelidade criativa, aqueles valores fundamentais, adquiridos com o contributo determinante do cristianismo, que se podem compendiar na afirmação da dignidade transcendente da pessoa humana, do valor da razão, da liberdade, da democracia, do Estado de direito e da distinção entre política e religião» (João Paulo II, Sínodo dos Bispos sobre a Europa, 1999).

Não compete à Igreja, como tal, encontrar soluções técnicas, para resolver a crise. Mas, equidistância não significa neutralidade. Nem todas as possíveis opções políticas se coadunam com o Evangelho de Jesus. Há princípios e critérios da Doutrina Social da Igreja, derivados do Evangelho, que urge ter presente para humanizar a vida em sociedade.

«A Igreja não pode, nem deve tomar, nas suas próprias mãos, a batalha política, para realizar a sociedade mais justa possível. Não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça… Entretanto, o dever imediato de trabalhar por uma ordem justa na sociedade é próprio dos leigos. Estes, como cidadãos do Estado, são chamados a participar pessoalmente na vida pública. Não podem, pois, abdicar “da múltipla e variada acção económica, social, legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover, orgânica e institucionalmente, o bem comum”…» (Bento XVI, Deus Caritas Est, 2005, nn.28-29).

Apesar de tudo, é Natal. Faço minha a boa nova dos Anjos na noite de Natal: «Não tenhais medo! Anuncio-vos uma grande alegria (…): Hoje nasceu-vos o Salvador, que é Cristo Senhor» (Lc 2, 10-12).
Hoje, neste momento. Para mim e para ti, minha irmã e meu irmão, que sentis o peso da solidão e da incompreensão, da doença e da idade, da crise económica e da luta pela vida… Incarnando, Deus tornou-se o Emanuel: Deus-Connosco. «Eu conheço bem os desígnios que tenho sobre vós – diz o Senhor – desígnios de paz e não de aflição, de vos garantir um futuro de esperança. Buscar-Me-eis e haveis de encontrar-Me, se Me buscardes de todo coração» (Jer 29, 11.13). Bom Natal para todos!

+ António, Bispo de Angra