Agenda Paroquial:

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A VACA E O BURRO... pois, e ainda pago o estupor duma taxa à RTP pelo magnífico serviço público de seriedade jornalística e de investigação junto de quem de direito... tanta desonestidade intelectual! E os estupores não pedem desculpa! Se houvesse mais cultura religiosa e cristã ninguém passava por tolo... Assim a maioria da turma histérica que fez este alvoroço absolutamente desnecessário, vai passar este Natal com negativa... Eu dizia tantas vezes a mim mesmo que o Natal e consumismo eram quase - hoje - a mesma coisa. Agora, tenho de acrescentar que Natal e folclore andam bem próximos nalguns pseudo-intelectuais... Tal decadência dos espíritos!

Eles (o burro e a vaca) representam a humanidade
1. O Natal é a festa do nascimento de Jesus? Sem dúvida. Mas, pelos vistos, não falta quem Lhe dispute as atenções. Há uns anos, era o Pai Natal que competia com Ele em protagonismo. Agora, parecem ser a vaca e o burro que com Ele rivalizam em popularidade. Acresce que na origem desta última contenda está uma figura de peso: o próprio Papa. Teria sido, de facto, Bento XVI a desaconselhar que se colocassem estes dois simpáticos animais no presépio. 2. Por exemplo, o site da RTP colocava em título: «Papa retira vaca e burro ao presépio». Do mesmo modo, o site da TVI referia que «afinal, vaca e burro não fazem parte do presépio». Quase todos os jornais alinharam por igual registo. E não foi só em Portugal. Veja-se o caso do Diário de Pernambuco, no Brasil: «Papa acaba com os animais do presépio».O mais curioso é que o Papa, num livro que escreveu sobre a infância de Jesus, afirma precisamente o contrário. Ou seja, não só não retira a vaca e o burro do presépio como diz, expressamente (p. 62), que «nenhuma representação do presépio prescindirá do boi e do jumento»! 3. Que se terá passado então? Só pode ter sido uma leitura apressada do texto, um olhar enviesado sobre o livro ou, então, uma tomada de posição a partir de comentários distorcidos sobre a obra. Nada, pois, como ir à fonte. Refira-se, desde já, que Bento XVI não inclui qualquer novidade. O que ele diz não tem dias, tem anos: dois mil anos! Na verdade, o Papa limita-se a anotar (p. 61) que, «no Evangelho, não se fala de animais». 4. Acontece que, como o mesmo Papa explica, «a meditação guiada pela fé, lendo o Antigo e o Novo Testamentos correlacionados, não tardou a preencher esta lacuna reportando-se a Isaías 1, 3: “O boi conhece o seu dono e o jumento o estábulo do seu senhor, mas Israel, Meu povo, nada entende» (p. 61). Estes dois animais aparecem como «representação da humanidade, por si mesma desprovida de compreensão, que, diante do Menino, diante da aparição humilde de Deus no estábulo, chega ao conhecimento e, na pobreza de tal nascimento, recebe a epifania que agora a todos ensina a ver» (p. 62). E o certo é que as representações mais antigas do Natal já incluíam a vaca e o burro! 5. Na parcimónia de elementos que nos traz, o Evangelho aponta que Maria deu à luz o Menino, «envolveu-O em panos e recostou-O numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria»(Lc 2, 7). Como é sabido, a manjedoura é o lugar onde os animais comem. «Agora, porém, jaz na manjedoura Aquele que havia de apresentar-Se a Si mesmo como o verdadeiro pão descido do céu». Neste sentido, a manjedoura passou a ser vista «como uma espécie de altar» (p.61). 6. Sigamos, então, o conselho do Papa. Deixemos ficar no presépio a vaca e o burrinho. E, como eles, façamos companhia a Jesus já que, em Jesus, é o próprio Deus que vem fazer companhia a cada um de nós. 7. Feliz Natal!
 
 João António Pinheiro Teixeira, teólogo
 
(Retirado da Agência Ecclesia)