Agenda Paroquial:

quinta-feira, 29 de março de 2012

VIAGENS DE FINALISTAS! UMA REFLEXÃO BEM OPORTUNA QUANDO ÁLCOOL E DROGAS MATAM E DIZEMOS: COITADINHOS... PORQUE LIBERDADE NÃO JOGA COM RESPONSABILIDADE, MAS COM LIBERTINAGEM!


Deixar que os filhos adolescentes saiam do país com os colegas da escola para uma viagem de finalistas implica que os pais lhes deem um voto de confiança. Na maioria destas viagens, os professores não acompanham os alunos. Os riscos fazem parte da vida, mas na adolescência muita coisa é levada ao extremo. Evitar os perigos e tornar a viagem memorável com muita diversão é o lema para qualquer finalista que se preze.
«Não vês como isto é duro, ser jovem não é um posto,/ Ter de encarar o futuro com borbulhas no rosto./ Porque é que tudo é incerto, não pode ser sempre assim,/ Se não fosse o Rock and Roll, o que seria de mim?» A música «Não há Estrelas no Céu» cantada por Rui Veloso ilustra bem os sentimentos de incerteza vividos pelos adolescentes que, em breve, chegarão a adultos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a adolescência é o período compreendido entre os 10 e 19 anos. É o período, por excelência, da descoberta – inerente a esta fase estão os riscos. «É bom que os adolescentes corram determinados riscos, desde que os riscos sejam controlados», afirma Pedro Dias Ferreira, psicólogo na Unidade de Adolescentes do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Para este especialista, as viagens de finalistas, que se realizam maioritariamente antes da Páscoa, deveriam ser acompanhadas por um ou mais docentes: «É aconselhável irem com um conjunto de professores. Os docentes são figuras de referência, que os acompanharam durante um ano letivo ou mais e são um suporte para qualquer coisa que não corra tão bem ou qualquer dúvida que surja», defende.
O psicólogo, habituado a lidar com adolescentes, preconiza até a ideia de serem as escolas a organizar, em conjunto com os alunos, aquela que é a «viagem de sonho» para muitos. Para que se dê um outro sentido àqueles dias tão ansiados, que podem ser muito mais do que praia ou neve e grandes noitadas: «Na viagem de finalistas, os professores podem mesclar-se com os alunos, fazer com que seja mais uma experiência relacionada com a escola, e integrar aspetos como a visita guiada pela cidade, ao museu principal, etc. Ninguém irá para fazer um teste sobre o museu que se visitou, mas porque não dar um carácter de aprendizagem?»
«Porque é que a escola, como espaço favorável para o crescimento e desenvolvimento destes miúdos, não favorece esse tipo de atividades, porque não organiza este tipo de viagens? Muitas vezes, têm medo daquilo que se vai dizer dos alunos daquela escola em concreto que foram para... Mas se o fizessem, haveria um ambiente mais favorecedor para que as coisas corressem bem e os pais se sentissem mais confortáveis e confiantes. Na adolescência é necessário correr riscos, testar os limites de cada um e do grupo, mas se os riscos forem controlados, perfeito. Quando os miúdos são amparados, as coisas correm lindamente», acrescenta.
Preparar o crescimento dos filhos
Falar em "miúdos" quando muitos deles já têm 18 anos parece contraproducente. O psicólogo justifica a pertinência da designação: «A parte do cérebro responsável pela tomada de decisão é o córtex pré-frontal. E nós sabemos que, na adolescência, a fase do desenvolvimento do córtex pré-frontal ainda não está concluída. Portanto, a tomada de decisão continua a ser difícil mesmo aos 18 anos.»
Álcool, droga e sexo – a combinação mais receada pelos pais. Daí a importância de os jovens adolescentes serem preparados para os riscos que correm. Mas a preparação tem de vir de trás e não nos dias que antecedem a viagem de finalistas. É primordial que os pais proporcionem um ambiente positivo em casa, não castrador, que favoreça a conversa com os filhos: «Há um trabalho que tem de se fazer antes. Preparar o crescer dos nossos filhos começa desde que eles nascem. É importante dar espaço para eles conversarem quando quiserem, para se poder trabalhar as questões do crescer, da novidade, da sexualidade, e até do experimentar em conjunto, mas não sou apologista do "vamos cá fumar um cigarro em conjunto". Enquanto pais, temos de ser figuras de referência, de respeito, de regras, de limites. Eles têm de perceber que não devem fazer prematuramente algumas coisas e, se o fizerem, devem fazer num ambiente minimamente controlado. A ideia é ir preparando os nossos meninos, que depois crescem, tornam-se adolescentes, jovens adultos, a saber viver, a encontrar os seus próprios limites...»
A tónica da educação está na liberdade com responsabilidade, porque «aqueles que chegam ao limite dos limites são aqueles que sempre foram castrados e nunca tiveram a possibilidade de ir testando, a pouco e pouco, os seus limites – e isso acontece muito com a bebida e o consumo de substâncias». Testar gradualmente as competências de cada um ajuda a crescer. «Não se pode querer, de um dia para o outro, que os miúdos se consigam organizar diante de algo que é novo para eles», avisa o psicólogo.
Autonomia e responsabilidade
Deixar que o filho vá a um bar apropriado para a sua idade com uma hora limite para o ir buscar ou para chegar a casa, é uma forma de ele testar as suas competências, saber até onde pode ir, conhecer-se melhor – e é também uma maneira de os progenitores acompanharem o desenvolvimento do adolescente. «Os pais têm de favorecer o crescimento, step by step, possibilitando que façam experiências todos os dias, a qualquer nível, para que depois se sintam capazes de pensar, ponderar, interpretar, fazer a escolha acertada num momento que pode não ser o melhor. É permitir que o menino se torne rapaz, e o rapaz se torne adolescente, e o adolescente se torne homem. Eu não posso exigir que um menino, que é tratado como um menino, faça coisas de homem aos 18 anos. Se não for experimentando, vai querer experimentar tudo de uma vez», lembra Pedro Dias Ferreira.
O crescimento é um jogo de conquistas. A confiança é a palavra de ordem. Se os pais estiverem atentos ao desenvolvimento dos filhos, conseguem ler alguns sinais relacionados com a sua autonomia e responsabilidade. «Amplas liberdades, amplas responsabilidades. Se eu dou liberdade ao meu filho de 18 anos para ir a uma viagem de finalistas onde não vão professores, tenho de confiar na responsabilidade dele.»
Numa viagem de finalistas é pedido aos jovens adolescentes que sejam autónomos, responsáveis e capazes de responder às solicitações do exterior. «É necessário que giram o quotidiano: tarefas, organização da mala, higiene, horários, serem capazes de decidir o que comem, de que forma é que se protegem do frio ou do sol, a que horas é que ligam aos pais, com quem vão estar, que bebidas é que vão experimentar, a que horas é que têm de ir para o hotel, até que ponto é que o rapaz se vai envolver numa briga de um amigo por causa de uma rapariga, até que ponto é que a rapariga vai pensar em preservar a sexualidade – é pedir imenso num curto espaço de tempo. Por isso é que eles devem ser preparados antes.»
Preparar antes para que o depois seja bonito de recordar. Sem arrependimentos. «[A viagem de finalistas] deverá ser uma memória associada a coisas que foram saborosas de vivenciar, que acrescentaram alguma coisa, que fizeram crescer. Memórias inesquecíveis de partilha e de comunhão de situações com os amigos e colegas. Portanto, aproveitem!», aconselha o psicólogo, em jeito de conclusão.

«Uma viagem emocionante, mas sem exageros»
Marcelo Durão é um jovem finalista de 18 anos que frequenta o 12.º ano na Escola Secundária Daniel Sampaio, em Almada. O Marcelo candidatou-se ao cargo de RP (Relações Públicas) da Megafinalistas, a empresa que está a organizar a viagem da sua escola a Andorra, e está a reunir o máximo número possível de colegas para irem gozar uns dias de atividades na neve e muita diversão noturna. Partem a 23 de março e regressam no dia 31. O Marcelo conta que, «quanto mais pessoas arranjar para a viagem, mais elevada é a comissão».
A FAMÍLIA CRISTÃ procurou saber mais sobre este cargo que é atribuído aos alunos que se candidatam a RP da empresa que se dedica a este nicho de mercado: «Um RP é meramente um aluno que tem um grupo de interessados em vir à viagem. Numa primeira fase é ele que fala com o respetivo grupo no sentido de ajudar a organizar as inscrições do grupo, mas a partir do momento em que estão inscritos a função do relações públicas vai diminuindo gradualmente, pois somos nós que tratamos de todo o processo da inscrição a nível de pagamentos, alterações, etc. A função do aluno/organizador é a mesma de qualquer pessoa que junta um grupo de amigos e organiza uma viagem, é uma espécie de líder do grupo, no entanto não tem qualquer tipo de responsabilidade, nem de obrigações, cabe-nos a nós esse papel», respondeu por correio eletrónico André Cunha, cofundador da empresa e diretor comercial.
E o que ganham em troca esses alunos? «Os relações públicas ganham vários prémios conforme a quantidade de participantes do grupo, valorizamos o mérito da capacidade de angariar novos inscritos, mas tanto podem ganhar uma simples camisola oficial da Megafinalistas, como podem ganhar uma ou mais viagens de finalistas», responde.
Segundo os dados desta empresa, os destinos mais procurados pelos finalistas do 12.º ano são Pas de La Casa, Andorra (neve), e Ibiza, Espanha (praia) e os preços rondam os € 260 e podem ir até aos € 450.
Nestas viagens, os grupos são acompanhados por «uma equipa de guias e de pessoal especializado em diversas áreas, não sendo habitual a presença de professores. Normalmente as direções das escolas e colégios não querem estar associados a estas viagens, o que é compreensível, por alguns disparates que já aconteceram no passado», diz André Cunha.
Este responsável diz ainda que não é tolerada a presença de drogas e aconselhada a moderação no consumo de álcool. «A posse ou consumo de droga pode dar origem a expulsão da viagem. Os excessos podem, efetivamente, acontecer. Temos sempre uma equipa de prevenção para acompanhar qualquer situação.»
O finalista Marcelo, do alto dos seus 18 anos, garante: «Da minha parte não serão permitidos excessos nenhuns. Cada um tem de ter o mínimo de consciência do que faz e das atitudes que toma.» E diz mais: «Todos os excessos devem ser evitados, principalmente os que envolvem álcool e drogas.»
Os pais do Marcelo deixam-no ir à viagem de finalistas sem a presença de um professor, mas avisaram-no «para ter cuidado, não abusar e não fazer figuras tristes».
O jovem adolescente quer que esta viagem de finalistas a Andorra seja «marcante»: «Será uma "despedida" do secundário, uma fase de transição na minha vida; é algo para desfrutar em conjunto com os amigos e a namorada. Penso que vai ser uma viagem bastante emocionante onde todos nós iremos desfrutar muito, mas sem exageros nem extravagâncias desnecessárias.»
Sílvia Júlio
Publicado em Família Cristã