Agenda Paroquial:

sexta-feira, 2 de março de 2012

3º Domingo da Quaresma: Dia da CARITAS





1. A caminhada da humanidade chama a atenção para a urgência de reflectirmos sobre algumas realidades a que nem sempre temos prestado os cuidados necessários. Habituámo-nos, por exemplo, à celebração de determinados dias durante o ano, e a rotina pode impedir que os tornemos num apelo para o compromisso.

A Igreja, em Portugal, celebra todos os anos, no III Domingo da Quaresma, o Dia Cáritas como tempo de reflexão e de compromisso dos cristãos e das suas comunidades. Para tal é proposto um tema destinado a formar consciências e a motivar para as exigências da caridade.

Nestes tempos de perplexidade e de alteração do paradigma social dominante, somos convidados a reflectir e a concretizar essa reflexão em gestos de partilha, sob o lema: «edificar o bem comum: tarefa de todos e de cada um». A Quaresma torna-se deste modo um período onde procuramos reconhecer que «a disponibilidade para Deus abre à disponibilidade para os irmãos e para uma vida entendida como tarefa solidária e jubilosa» (Caritas in Veritate, 78).

2. Ninguém ignora que a referência permanente à liberdade individual e à consequente autonomia de vida têm obstruído o bem comum. Com isto adia-se a construção da «civilização do amor» como verdadeira orientação alternativa, capaz de responder às necessidades camufladas com o nome de «crise».

Numa sociedade verdadeiramente evoluída, supõe-se que o Estado desempenha um papel fundamental na garantia de condições de vida condigna a todos os cidadãos. Contudo, esperar tudo do Estado é um engano irresponsável, dado que a solidariedade mais profunda radica em cada pessoa e em toda sociedade, nas suas múltiplas relações de co-responsabilidade, começando pelas relações de proximidade.

3. O Santo Padre Bento XVI afirma que «a solidariedade consiste primariamente em que todos se sintam responsáveis por todos» (Caritas in Veritates, 38). Como Igreja, teremos de adoptar o espírito do Bom Samaritano, que passa nas estradas da vida e reconhece a necessidade de intervenção, através de um «coração que vê» e que actua em conformidade.

O crescente desemprego gera e agrava ambientes amargos nas famílias e na sociedade; o isolamento dos idosos conduz à solidão extrema na própria morte; e muitas famílias de todas as idades, particularmente as suas crianças, não conseguem prover às suas necessidades básicas. De tudo isto resultam graves situações de desencanto e de ruptura verdadeiramente alarmantes. Em tal encruzilhada, sem saída à vista, somos interpelados a optar por um caminho diferente do passado, optando claramente pelo bem comum, sem perdermos de vista o destino universal dos bens do mundo.

4. Trata-se, por outras palavras, da opção pelo amor. «Amar alguém é querer o seu bem e trabalhar eficazmente por ele. Ao lado de um bem individual existe um bem ligado à vida social das pessoas: o bem comum. É o bem daquele «nós todos» , formado por indivíduos, famílias e grupos intermédios que se unem na comunidade social» (CV 7).

Neste Dia Cáritas, propõe-se, a todos os cristãos, uma forte consciência social e a intensificação das actividades solidárias. Recomendam-se, com alta prioridade, três linhas de acção às quais, infelizmente, não tem sido prestada a devida atenção: a primeira, respeita à existência de grupos de acção social - grupos Cáritas, conferências vicentinas ou outros - em todas as paróquias; a segunda, ao tratamento estatístico dos casos sociais acompanhados; e a terceira, à intervenção junto dos poderes públicos, sempre que necessário, para a adopção de medidas adequadas. Nas paróquias onde não existem grupos de acção social, ou estes não integrem representantes de todas as suas zonas, não se garante a proximidade à semelhança do Bom Samaritano. Quando não se elaboram e não se difundem as estatísticas dos casos sociais acompanhados, verifica-se a respectiva ocultação pública e escasseiam as bases consistentes para a intervenção junto dos poderes públicos. Por outro lado, quando não se pratica esta intervenção, recusa-se uma actuação que, em muitos casos, é indispensável.

Ao lado destas linhas de acção, as comunidades devem ser formadas para uma cultura de responsabilidade pelos outros. Ninguém é estranho na vida do cristão e muitos problemas deixariam de existir se as respostas acontecessem em termos de proximidade, talvez no silêncio da caridade verdadeira, e com pequenos gestos de que todos são capazes.

5. Todos somos responsáveis pela construção do bem comum. É uma tarefa a que ninguém se pode eximir. Cada um de nós deve dar o seu contributo como algo insubstitível, visando sempre um humanismo integral.

Neste contexto, a Cáritas tem, diante de si, uma responsabilidade enorme de acção e animação para a resposta imediata, e de fundo, a problemas inadiáveis. Daí a necessidade do contributo, traduzido em partilha generosa, de todos os cristãos e dos cidadãos em geral; hoje e sempre.

Que este ano de austeridade gere uma maior consciencialização pelo bem comum, com a vontade expressa de o edificar quotidianamente e em todos os lugares, por todos e por cada um!



+ Jorge Ortiga, A. P.

Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade