Agenda Paroquial:

sexta-feira, 18 de abril de 2014

SEXTA FEIRA DA PAIXÃO DO SENHOR – Comentários do P.e João Resina (in a Palavra no Tempo II)


            Contemplamos a Paixão de Jesus Cristo. O Senhor reza longamente na angústia e sua sangue no Jardim das Oliveiras, enquanto Pedro, Tiago e João dormiam a poucos passos. É preso e conduzido aos Sumos-sacerdotes e ao Sinédrio. Enfrenta a mentira, o ódio e a calúnia, e é declarado réu de morte pelas autoridades religiosas do seu povo. “Depois, cuspiam-Lhe no rosto e batiam-Lhe. Outros esbofeteavam-nO, dizendo: «Advinha, Messias, quem foi que te bateu?» ” (Mt 26, 67-68). É levado ao tribunal de Pilatos. Continua a enfrentar a mentira e agora o jogo político dos que mandam na religião e no mundo. Recebe o desprezo e o ódio da populaça que dias antes O aclamava como Messias e hoje reclama o o perdão de Barrabás e a sua morte na cruz. É flagelado e vilipendiado pela soldadesca. Colocam-lhe uma coroa de espinhos. Ratificada a sua condenação por Pilatos, carrega a cruz até ao Calvário e aí é cravado nela. Está só, entregue aos sarcasmos dos vencedores. Os seus discípulos tinham-no abandonado. O Pai deixa-o sofrer as dores e o abandono. Morre ao fim de longas horas, entregando-se nas mãos do Pai.
A cruz é um dos suplícios mais terríveis que os homens inventaram. Pendurado pelos braços, o condenado vai perdendo lentamente o controlo dos músculos do tórax e sofre uma asfixia progressiva. Se quiser murmurar alguma palavra, tem de tentar aliviar o peito fazendo força nos pés, que estão trespassados. O pericárdio vai acumulando liquido e o coração funciona cada vez pior. As hemorragias causadas pelas feridas nas mãos e nos pés causam-lhe uma sede terrível.
Para os romanos a cruz era o suplício dos escravos, os judeus pensavam que só um homem maldito por Deus podia acabar na cruz. A cruz, que hoje é um sinal de amor e de esperança, era naquele tempo o emblema do horror. Os primeiros cristãos precisam de coragem para anunciar a ressurreição de um homem que morreu na cruz.
Nesta tarde contemplamos a morte de Cristo, estamos na compaixão. Mas não ignoramos que a Paixão de Cristo se insere na longa paixão dos homens.
Desde que o mundo é mundo, é imensa a dor dos homens. Há os que vivem na miséria e morrem à fome, os que sofrem da doença e não são tratados quando seria possível fazê-lo, os que são envolvidos pela violência e pela guerra; há os ódios e as divisões entre indivíduos e entre grupos; há a desigualdade que permite aos ricos viver a seu bel-prazer e condena os pobres a vegetar; há um imenso rol de injustiças. É grande o clamor dos humilhados e ofendidos. Mas um dos aspectos mais graves é que todo o indivíduo e todo o grupo que tem poder se serve desse poder para escravizar, subornar, comprar, iludir, envenenar, os indivíduos e os grupos que podem menos. Até nestes dias e até nestas horas que deviam merecer o respeito, os jornais e as televisões nos anunciam que isso continua a fazer-se.
Jesus não veio ao mundo para morrer, Jesus disse no Jardim das Oliveiras que não gostava do sofrimento. Aceitou sofrer e morrer, na fidelidade ao seu caminho. Suponho, em todo o caso, que ao enfrentar a morte, se sentiu feliz por partilhar a sorte destes irmãos mais doridos. Acreditamos que somos todos pecadores, todos precisamos de perdão e redenção. Acreditamos que o mistério da morte de Cristo nos alcançou a salvação, e que recebemos força e luz para vivermos da maneira diferente: para o amor e não para o ódio, para o perdão e não para a vingança, para a paz e não para a guerra.
Estamos no mistério da compaixão. Não ignoramos que o Senhor agradece a nossa presença. Mas espera que trabalhemos por um mundo melhor.