Agenda Paroquial:

terça-feira, 9 de abril de 2013

SIMPLICIDADE EM PLAYBACK

João Aguiar Campos

D.R.
Vai por aí, mesmo entre os pouco ou nada atreitos a crenças, um grande entusiasmo em torno do Papa Francisco.
Alegra-me que tal aconteça; e não me apetece mesmo nada deitar água na fervura. Mas não ficaria de bem comigo se não confessasse um receio: que a euforia de muitos venha a transformar-se em frustração, à medida que forem constatando que, afinal, não acontecem todas as mudanças que esperavam. E estou a pensar em questões irrenunciáveis, como o respeito pela vida em qualquer dos seus momentos, ou a defesa intransigente da família, por exemplo... Como estas expectativas são ilegítimas, ilegítima será a desilusão. Mas que vai acontecer e ganhar eco mediático, ai isso vai!
Ao lado destes " desiludidos" há de sentir-se também a surdina dos que convivem mal com a primavera de gestos e palavras; com a decisão confessada de fazer do poder um transparente e generoso serviço; com a proximidade que não teme, antes ama, o cheiro das ovelhas; com o jeito quase paroquial de dizer coisas profundas. E o Santo Padre tem-nas dito com a suavidade de uma brisa que parece soprar-lhe na voz.
Tenho para mim que a capacidade de comunicação com todos é mesmo uma das mais evidentes virtudes do Papa, deste Papa. Parece, aliás, que tudo nele comunica permanentemente alguma coisa, de um modo transparente, global e, já agora, coerente.
Sim; tudo o que temos visto no Papa Francisco é o que dele contam quantos o conheciam mais de perto - podendo lembrar-se com total a propósito, nesta edição do Semanário Ecclesia que lhe é dedicada, uma afirmação do Padre António Vieira: "As ações de cada um são a sua essência".
Desejo sinceramente que a sua simplicidade venha a fazer escola e a ela se converta verdadeiramente toda a Igreja.
Repito: "verdadeiramente"; para nos prevenirmos contra a tentação de fazer de conta, de surfar a onda do apreço com atitudes que soarão a falso se não nascerem no coração. É que só mudados por dentro seremos
efetivamente simples, pobres e próximos. Sem um arrepio distanciador todas as vezes que os suores do mundo real nos atingem, mesmo que seja na fibra de uma corrente de ar…
Se tal acontecer, quem nos vir vai denunciar-nos e dizer-nos que nos parecemos a cantores sem voz que brilham nalgumas festas da aldeia – mas apenas até ao momento em que o quadro improvisado não aguenta todas as luzes e um fusível estraga o espetáculo; pois então se descobre que o artista vivia do playback, de nada lhe valendo sequer as ginastas (?) que agora é moda evoluírem no palco como fator de distração.
Simplicidade em playback? Vade retro!...