Agenda Paroquial:

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

NOTA PASTORAL

MENSAGEM PARA A QUARESMA DE 2013

O compromisso da Fé que opera pela Caridade para o desenvolvimento de uma cidadania activa é uma tónica essencial da Mensagem de D. António Sousa Braga para a Quaresma de 2013, cujo texto publicamos na íntegra.



«A celebração da Quaresma, no contexto do Ano da Fé, proporciona-nos uma preciosa ocasião para meditar sobre a relação entre fé e caridade» - adverte o Santo Padre, na Mensagem Quaresmal deste ano. E continua: «A Quaresma, com as indicações que dá tradicionalmente para a vida cristã, convida-nos, precisamente, a alimentar a fé, com uma escuta mais atenta e prolongada da Palavra de Deus e a participação nos Sacramentos e, ao mesmo tempo, a crescer na caridade, no amor de Deus e ao próximo, nomeadamente através do jejum, da penitência e da esmola» (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2013).

«A fé que opera pela caridade» (Gal 5, 6)

Como explica muito bem S. Paulo, a fé autêntica é aquela que «opera pela caridade». E S. Tiago não é menos explícito: «De que aproveitará, irmãos, a alguém dizer que tem fé, se não tiver obras? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano e um de vós lhe disser: “Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos”, sem lhes dar o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se ela não tiver obras é morta em si mesma. Mas dirá alguém: “Tu tens a fé e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a fé pelas minhas obras”» (Tg 2, 14-18).

Por isso, nesta Ano da Fé, vamos procurar encarnar a vivência da nossa fé na prática da caridade, que, além do mais, terá a sua tradução concreta na Renúncia Quaresmal. Ao longo da caminhada quaresmal, vamos renunciar a algo, não só supérfluo, mas também necessário, para ajudarmos quem mais precisa, na nossa Paróquia e Ouvidoria.

Assim, até ao fim da Quaresma entregaremos o fruto das nossas renúncias, que a Paróquia, através dos serviços adequados, fará chegar aos irmãos mais necessitados. Este momento difícil de crise, que estamos a viver, interpela a nossa consciência cristã, no sentido de reforçar a partilha de bens.

Em 2012, a Renúncia Quaresmal rendeu 11.348 euros e 62 cêntimos. Estamos no Ano da Fé e a viver uma crise muito grave, que afecta, sobretudo, os mais desfavorecidos. Ora bem, a fé em acção é amor. Hoje, mais do que nunca, cada cristão, em coerência com a fé professada, tem de sentir a obrigação de concretizar o amor do próximo, no ambiente em que vive e trabalha, promovendo a solidariedade de proximidade.

«Fé comprometida, cidadania activa»

É o lema da Semana Nacional da Caritas, que se vai realizar de 24 de Fevereiro a 3 de Março. Há na Igreja muitos movimentos com o carisma profético da caridade e vários serviços, que promovem a acção social e caritativa. A organização oficial da Igreja para o Serviço da Caridade, realizado por mandato comunitário é a Caritas, a nível diocesano, nacional e internacional.

Todos os anos, em Portugal, se realiza a Semana Nacional da Caritas, com o objectivo de reavivar o Serviço fraterno da Caridade, no seu sentido abrangente de promoção humana e social. É também uma ocasião para apoiarmos materialmente, com os nossos donativos, as iniciativas da Caritas Diocesana e Nacional, que se revelam tão necessárias,  na situação de crise que nos atinge.

Assim, os ofertórios das Missas do Dia da Caritas (fim-de-semana: 2-3 de Março) destinam-se à Caritas dos Açores. Deverão ser enviados, atempadamente, para a Cúria Diocesana, que, por sua vez, os entregará, no devido tempo, à Caritas Diocesana.

Como se costuma fazer todos os anos, na Semana da Caritas (24 de Fevereiro-3 de Março), cada Caritas de Ilha promoverá, com a devida autorização, o peditório público.

A Caritas está a prestar um relevante serviço à população, neste momento difícil, que nos toca viver. Precisa de apoio, pois os pedidos de ajuda aumentam. O melhor jejum e penitência, que podemos fazer na Quaresma é, precisamente, socorrer o nosso próximo. À maneira do Bom Samaritano: «a resposta àquilo que, numa determinada situação, constitui a necessidade imediata… As organizações caritativas da Igreja, a começar pela Caritas (diocesana, nacional e internacional), devem fazer o possível para colocar à disposição os correspondentes meios e, sobretudo, homens e mulheres que assumam tais tarefas» (Bento XVI, Deus Caritas Est=DCE, 2005, nº 31).

Pastoral Social

Mas não se pode ficar por aí. A acção social da Igreja não se reduz a mera assistência. Implica uma «cidadania activa» ao serviço do desenvolvimento integral do homem todo e de todo o homem, segundo os princípios da Doutrina Social da Igreja. Como adverte o Papa, «o dever imediato de trabalhar por uma ordem mais justa na sociedade é próprio dos leigos. Estes, como cidadãos do Estado, são chamados a participar pessoalmente na vida pública» (DCE 29).

Daqui a urgência de uma adequada formação cristã. A Caritas Nacional está a promover o Projecto “Mais Próximo, que tem como objectivo proporcionar uma maior qualificação dos agentes de Pastoral Social, tanto a nível profissional, como de competência do coração e de conhecimento da Doutrina Social da Igreja.

Para que o projecto possa ser aplicado na Diocese, peço aos Ouvidores para promoverem encontros das Equipas Sacerdotais de cada Ouvidoria ou Zona Pastoral com as respectivas Direcções das Caritas de Ilha. O nosso objectivo é encerrar o Ano da Fé, tendo a funcionar, em cada Paróquia, ou Zona Pastoral, ou Ouvidoria, um grupo organizado de Pastoral Social: seja Núcleo de «Caritas», ou Conferência Vicentina, ou Fraterna Ajuda Cristã…). O que importa é que haja uma expressão comunitária e organizada do Serviço da Caridade.

Como muito bem explica o Santo Padre, O Serviço da Caridade é tão essencial para a missão evangelizadora da Igreja, como o Anúncio da Palavra e a Celebração dos Sacramentos (cf  DCE 22 e 25). O anúncio e, porventura, a denúncia têm de ser, pois, acompanhados por uma acção comunitária organizada.

A hora é de colaboração. Só caminhando juntos, em Igreja, é que poderemos ser fermento que leveda a massa, para que surja um mundo melhor e diferente. Na Diocese, a coordenação geral de toda a acção social é garantida pelo Serviço de Apoio à Pastoral Social, recentemente constituído, que vai procurar dar corpo à tão desejada Pastoral de Conjunto no campo social.

Todo o tempo de crise exige mudanças. A Quaresma é o tempo oportuno de conversão, isto é, de mudança de vida. Foi o apelo de Jesus, no início do Seu ministério público: «Completou-se o tempo e aproxima-se o Reino de Deus: mudai de vida e acreditai na Boa Nova» (Mc 1, 14)!


+ António, Bispo de Angra

Angra, 25 de Janeiro de 2013,
Festa da Conversão de S. Paulo.