Agenda Paroquial:

sexta-feira, 18 de maio de 2012

A RECEITA DA BRUXA


A Maria (nome fictício) encontrou-me na rua. "Ainda bem que o vejo, porque preciso muito de falar consigo!"
- Então, que se passa? - perguntei.
- Preciso que o senhor me celebra uma missa, só minha. Só minha! E que use uma estola que tenho lá em casa. Ah! Quero a missa antes do nascer do Sol e que me deixe pôr no altar três velinhas, não todas juntas mas assim, assim, assim... - E ia gesticulando para sugerir a posição das velas.
Fiquei suspenso perante as ondas inesperadas e sucessivas de pedidos que a senhora me fez. Vieram-me  então à memória e à voz aquelas palavras que um amigo e colega costumava dizer a quem lhe vinha com pedidos semelhantes:
- Diga à  minha comadre bruxa que não preciso da receita dela para viver... Só falta a senhora pedir também para eu  a ajudar a fazer o "defumadoiro" cá fora, à porta da Igreja...
- Não, não - respondeu a senhora - é uma promessa...

Há pessoas que seguem muito mais à risca a receita da bruxa do que a receita médica. Há pessoas que confiam muito mais na bruxa do que no médico.
E qualquer psiquiatra saberá explicar muito bem o efeito psicológico que tal "fé" tem na vida e na saúde de muita gente, já que "a fé move montanhas".
- E o padre, que lhe respondeu? - perguntarão os amigos leitores.
Desde logo me apercebi que naquela cabeça e naquele coração não havia lugar para a explicação, não existia qualquer disponibilidade para acatar, para dialogar, para acolher. A senhora estava cheíssima da receita da "entendida". Não havia espaço para mais nada. Só para o meu sim.
A resposta foi um não claro.
Ui! Ficou em brasa! Já imaginam os leitores o troco que recebi. O costume em situações de contrariedade. " Os padres acabam com a religião, só sabem tirar a fé à gente..." E foi acrescentando à laia de desafio:
- Hei-de arranjar um padre para eu cumprir a promessa!...
E desandou. Tão furiosa que parecia que os paralelos do passeio ardiam...
"Oxalá acalmes - pensei - caso contrário, com tanta labareda na alma, ainda pegas para aí o fogo ..."

Isto de meter o sagrado e o bruxedo no mesmo saco é tremendo! Tal mistura é amassada pela ignorância e pelo fanatismo.
Às vezes parece que já nem um pingo de respeito há pelo sagrado. Põem-se Deus e a liturgia ao serviço da "magia negra."
Confesso que me chocam profundamente estas situações.
Blogue Asas da Montanha