1. Quando em Quarta-Feira de Cinzas se entra na Quaresma, os cristãos têm logo no seu horizonte a celebração da Festa Pascal. São 40 dias de oração com um duplo sentido: a purificação pela penitência e o revestir-se de homem novo para ressuscitar com Cristo. O caminho quaresmal, como tempo de preparação, não pode estar dominado pela tristeza que a penitência por vezes sugere. A nota fundamental é a da alegria porque está perto da salvação conseguida pela Ressurreição do Senhor. É claro que esta alegria tem de conter o dinamismo necessário, sabendo que o grande objectivo da Quaresma está na preparação das comunidades para receberem a luz de Cristo, o que vai acontecer na Vigília Pascal. Há que esperar, através da oração e da penitência, essa luz que é Cristo e que irá iluminar o mundo inteiro através de cristãos conscientes, activos e responsáveis.
2. O caminho quaresmal tem seis etapas, cada uma delas com um significado profundo para a ressurreição pascal de cada cristão e, também, para a renovação exigente das comunidades da Igreja. A liturgia ajuda a descobrir cada etapa e responsabiliza na progressividade que é proposta. Não pode esquecer-se, porém, o programa pastoral que norteia toda a actividade pastoral que se desenvolve. “A fé actua pela caridade”, é o tema do ano. Como irá viver-se este slogan na prática quaresmal?
• “Nem só de pão vive o homem” (Mt 4) é o grito que marca a primeira semana da quaresma. Quantos cristãos estão preocupados com as coisas, neste tempo de crise, e, depois, esquecem o essencial, a sua relação com Deus. “A palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4), isto é, a Palavra viva irá orientar todas as opções, permitindo entender o verdadeiro sentido para a vida.
• “Este é o meu Filho muito amado, escutai-O” (Mt 17). Nesta segunda semana da Quaresma torna-se essencial renovar-se na fé. A fé é adesão à pessoa de Cristo, o Filho de Deus. Escutar Jesus e levar à prática todo o seu projecto é o melhor caminho de conversão.
Porque O vimos e ouvimos,” (Jo 4). O diálogo de Jesus com a samaritana levou-a a proclamar Jesus às pessoas da sua terra. Estas reconheceram-n’O como Salvador. Compreende-se a importância do diálogo com Jesus na oração de intimidade. A contemplação de Jesus que nos fala, leva o cristão a gritar a toda a gente que encontrou o sentido para a vida. O cristão torna-se missionário ao anunciar Cristo ressuscitado. É a terceira semana da quaresma.
• “Quero ver” (Jo 9). Este grito do cego de nascença constitui a súplica que o cristão faz, para ver as pessoas, as coisas, a vida, o tempo, a eternidade com outros olhos. Saber ver é uma atitude fundamental para o cristão. Quem vê, esforça-se por compreender e descobrir as soluções novas para cada situação. A quarta semana da quaresma obriga cada cristão a assumir-se, como agente de mudança para o mundo que deve ser novo, diferente, melhor.
• “Sai para fora, levanta-te” (Jo 11). Quando se quer uma Igreja “em saída”, uma Igreja de portas abertas, rapidamente se compreende que ninguém pode ficar no pessimismo, na indiferença, nem simples preocupação espiritual. Há muitas situações de morte, no mundo actual, que reclamam ressurreição. A quinta semana da quaresma constitui um indiscutível apelo a provocar a ressurreição. Pela intervenção, para introduzir na sociedade novos valores, pela promoção humana, para dar a cada pessoa a capacidade de se realizar, pela solidariedade perante os casos mais difíceis, os cristãos conseguem provocar a ressurreição.
• “Hossana, hossana, ao Filho de David” (Mt 26). Com a entrada solene em Jerusalém, Jesus afirma-se Senhor, mas um Senhor diferente, capaz de purificar o templo profanado e, também, disponível para aceitar dar a vida pelo seu povo. Ao celebrarem o Domingo de Ramos, os cristãos sentem a urgência de dar à Igreja a capacidade de ser sinal, testemunho de coerência, verdade e compromisso. A seu tempo o cristão assume ser diferente, dando a vida pela construção do tempo novo, expressão da ressurreição que vai chegar.
Este caminho quaresmal sugere a cada cristão a forma de se renovar na vida de relação com Deus e de relação com os irmãos. Ao mesmo tempo vai antecipando a alegria pascal, uma vez que cada gesto, palavra ou atitude de ressurreição traz consigo a certeza de que ela está a acontecer.
3. A Quaresma da Comunidade Paroquial das Bandeiras tem propostas muito concretas que, de per si, ajudam à conversão e mudança de vida. Para além da liturgia de cada Domingo e das liturgias de cada celebração eucarística, mesmo durante a semana, a Quaresma propõe tempos de estudo, de contemplação e de conversão.
• Para o estudo, convidam-se os cristãos a ler e a aprofundar a Exortação Pastoral do Papa Francisco, sobre a Alegria do Evangelho. É um texto essencial para quem quer estar no mundo para transformar o mundo, anunciando o evangelho.
• Continuando o estudo, vale a pena participar nos cursos da Escola de Leigos sobre os Sacramentos na Zona Pastoral da Madalena e nas Jornadas Bíblicas Diocesanas em São Mateus. E a preparação para o Crisma cada terça-feira da Quaresma na Igreja da Madalena pelas 20 horas, destinado aos jovens com os dez anos de Catequese cumpridos integralmente.
• A Via-Sacra na Igreja às terças-feiras é um tempo forte de aprofundamento da fé e de reconhecimento da extraordinária ternura de Deus para connosco. Ele é o rei em misericórdia e, por isso, vale a pena recorrer a Ele, para, na contemplação, saborearmos todo o amor de Deus, por Cristo, para connosco.
O Lausperene no 5º Domingo da Quaresma como momento forte de adoração pessoal e comunitária.
O Lausperene no 5º Domingo da Quaresma como momento forte de adoração pessoal e comunitária.
• A Celebração da Reconciliação no dia 31 de Março permite-nos receber o grande sacramento do perdão. Saber que Deus nos perdoa sempre e que esse perdão passa pelas mãos de homens pecadores, os sacerdotes, é mais um sinal de beleza do nosso Deus que ama, com gestos de grande simplicidade, mas de uma generosidade imensa, de que queremos ser dignos.
• Os gestos de solidariedade são de grande significado no caminho quaresmal. Quantas pessoas estão sozinhas, no silêncio das suas casas, sem ninguém por perto. Bater à sua porta, levar-lhes a palavra e o sorriso, reconhecer as suas carências e procurar respostas, orar com elas, tudo isto são obras de misericórdia, na solidariedade verdadeira. A Renúncia Quaresmal para a Cáritas Diocesana com a sua Colecta no Domingo de Ramos.
• Inventar expressões de bondade para quantos vivem a agitação do dia-a-dia. Cada um pode levar uma luz diferente ao seu lugar, à sua rua, convertendo o tempo de Quaresma em tempo de esperança. Com tanta gente a sofrer, hoje, a Quaresma pede a verdadeira caridade, antecipando assim, a ressurreição do Senhor.
Para além de todo o dinamismo espiritual da Quaresma, os cristãos são hoje obrigados a transformar este tempo em oportunidade de apoio social, a quantos precisam de reencontrar o calor da vida que, com as suas dificuldades estão a perder.
Para além de todo o dinamismo espiritual da Quaresma, os cristãos são hoje obrigados a transformar este tempo em oportunidade de apoio social, a quantos precisam de reencontrar o calor da vida que, com as suas dificuldades estão a perder.
4. A nossa Quaresma, na nossa Comunidade Cristã, tem de ser muito mais exigente, para ser uma antecipação da Ressurreição de Cristo. O desafio está em ligar a fé à caridade e compreender que só pela caridade a fé actua de verdade. É que “a fé sem obras é morta”.
Pe. Zulmiro Sarmento Administrador Paroquial de Bandeiras